Revista Sobrado
Representantes da FGM em reunião com os filhos de Tatti Moreno | Foto: Fundação Gregório de Mattos/Patrícia Lins

Prefeitura de Salvador debate a confecção da réplica da estátua de Mãe Stella de Oxóssi

A Prefeitura de Salvador, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), reuniu-se, na manhã desta terça-feira (6), com os filhos de Tatti Moreno para alinhar as questões sobre a confecção da réplica da estátua de Mãe Stella de Oxóssi , obra que foi incendiada no último domingo (4).

A proposta será apresentada à FGM, ainda este mês, pelos filhos, André e Gustavo Moreno que são sócios em seu ateliê e acompanhavam todos os trabalhos do pai. Após apresentação do projeto, a Fundação dará seguimento com os trâmites burocráticos, bem como definição de orçamento e prazo para que o Conjunto Escultórico Mãe Stella e Oxóssi volte a ficar completo.

Vandalismo
A escultura de Mãe Stella de Oxóssi, que fica na avenida que leva o nome da ialorixá, em Salvador, foi incendiada, na madrugada do último domingo (4). Mais um ataque racista e de intolerância às religiões de matrizes africanas.

Imagens registradas no local mostram que apenas a imagem de Mãe Stella foi atingida pelo fogo, enquanto a peça de Oxóssi, que fica logo atrás da obra da ialorixá, não foi atingida.

Esta é a segunda vez que a obra é vandalizada. Em setembro de 2019, a estrutura foi pichada. Ninguém foi preso pelo crime, na primeira ocasião. A obra foi confeccionada em resina de poliéster e fibra de vidro, pelo artista plástico Tatti Moreno, que morreu em julho deste ano.

A estátua dela tem dois metros de altura, enquanto a de Oxóssi tem 6,5 metros. Oxóssi era o orixá de cabeça de Mãe Stella e um dos principais do Candomblé. Ligado à natureza, ele é responsável por prover as refeições de todos, além de ser um forte guerreiro e grande sábio. Oxóssi, que é caçador, carrega um arco e flecha.

A peça foi instalada e inaugurada em abril de 2019. Mãe Stella morreu aos 93 anos, em dezembro de 2018, e foi uma das principais ialorixás do país. Ela foi uma sacerdotisa e grande conhecedora dos cultos e tradições do Candomblé. Lésbica, enfermeira por formação e escritora, ocupou a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia.

Estátua de Mãe Stella de Oxóssi foi incendiada no último domingo (4) | Foto: FGM/Divulgação

Apuração do crime
O crime foi registrado na 12ª Delegacia, em Itapuã, que acompanhará as investigações. A prefeitura informou que a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) fará a retirada da peça danificada para posterior recuperação.

Em nota, o Ilê Axé Opô Afonjá, terreiro que Mãe Stella de Oxóssi foi ialorixá de 1976 a 2018, repudiou veementemente o que classificou como “ato criminoso contra a nossa ancestral que, ao longo de sua história, além de sempre defender o direito à liberdade religiosa para todos, construiu ações e escreveu sobre o legado do candomblé, com o objetivo de promover a preservação de seus valores culturais e sociais”.

O Ilê Axé Opô Afonjá diz que “tomará as devidas providências junto às autoridades competentes, com o objetivo de identificar os criminosos, além de pleitear a adoção das medidas cabíveis para evitar que esse crime se repita”.