Revista Sobrado
O escritor indígena e ambientalista Ailton Krenak foi um dos principais nomes da FLIPELÔ 2022 | Foto: Ricardo Prado/Divulgação

FLIPELÔ se consolida como uma das maiores festas literárias do Brasil

O Centro Histórico de Salvador foi ocupado por seis dias (1 a 6 de novembro) com uma rica e diversa programação cultural, que reuniu literatura, artes plásticas, teatro, fotografia, gastronomia e música, com atividades que levaram milhares de pessoas a curtir a sexta edição da Festa Literária Internacional do Pelourinho (FLIPELÔ), que se consolida como uma das maiores festas literárias do Brasil.

A programação da FLIPELÔ 2022 foi realizada em 126 espaços culturais do Centro Histórico, desde a Praça Municipal até o Santo Antônio Além do Carmo, incluindo a programação oficial e a FLIPELÔ Mais, organizada por equipamentos culturais públicos e privados, o que expressa a estreita relação da festa literária com a comunidade. Cerca de 120 mil pessoas circularam pelos diversos espaços da Festa Literária durante os seis dias.

A força da palavra
É a literatura o motivo da realização da FLIPELÔ, que nesta edição festejou os 110 anos de Jorge Amado. Escritores internacionais, da Bahia e de outros estados brasileiros marcaram presença. Autores independentes tiveram um espaço especial, a ‘Vila Literária’, montada no Largo Tereza Batista, onde ocorreram rodas de conversas, apresentações musicais, saraus, vendas e lançamentos de livros.

Oito editoras integraram a ‘Casa das Editoras Baianas’, que nesta edição, ocupou o foyer do histórico prédio da Faculdade de Medicina da Ufba (Universidade Federal da Bahia). Lá foram realizados bate-papos, rodas de conversas, lançamentos de livros e saraus. A valorização das editoras baianas e dos escritores independentes é uma das marcas da FLIPELÔ.

A poesia tem vez e voz na FLIPELÔ. Poetas baianos e de outros Estados se apresentaram no ‘Espaço A VozEdita’, no Café-Teatro Zélia Gattai, localizada na Fundação Casa de Jorge Amado. Escritores debateram temáticas presentes em seus livros e pontuaram o momento atual e o futuro da literatura em mesas redondas realizadas no ‘Com a Palavra o Escritor’ no auditório do Museu Eugênio Teixeira Leal.

O auditório do Teatro Sesc-Senac foi o palco de importantes conversas. Os escritores Kalaf Epalanga (Angola), João Brant (MG), Edson Kayapó (AP), Ailton Krenak (MG), Maria Ribeiro (RJ), Bel Mayer Santos (SP), Vanessa Passos (CE), José Luís Peixoto (Portugal) e Itamar Vieira Júnior (BA) participaram de conversas que lotaram o teatro.

O indígena e ativista ambiental Ailton Krenak, o português José Luís Peixoto e o baiano Itamar Vieira Júnior protagonizaram as mesas mais disputadas da festa literária. Ailton Krenak se disse surpreso com a acolhida e a recepção do público. “A melhor coisa que pode acontecer a alguém que atua no campo da cultura é poder comunicar uma ideia de maneira direta com as pessoas que ouvem numa boa, com acolhida”, disse Krenak durante a FLIPELÔ.

O escritor baiano Itamar Vieira Júnior participou pela terceira vez da FLIPELÔ | Foto: Ricardo Prado/Divulgação

A conversa “Sem o mar por meio: uma conversa transatlântica sobre a Língua Portuguesa”, com o português José Luís Peixoto e o baiano Itamar Vieira Júnior, realizada no domingo, foi a última grande mesa do evento, bastante disputada pelo público, o que mostrou a força da FLIPELÔ ao juntar dois dos maiores escritores da Língua Portuguesa na atualidade.

“Para mim foi um prazer muito grande ter esta conversa com Itamar Vieira Júnior na FLIPELÔ. Já faz tempo que eu o conheço e leio o seu trabalho, mas ainda não tínhamos tido a oportunidade de estarmos juntos em uma mesa”, ressaltou o escritor português José Luís Peixoto.“Esse encontro aqui em Salvador foi muito especial, com algumas provocações, mas para falarmos de assuntos bem sérios, o que no fundo a literatura sempre procura”, completou.

Itamar Vieira Júnior também destacou a felicidades em dividir a mesa com o escritor português, onde debateu-se a Língua Portuguesa falada em diversos lugares, suas especificidades e suas características em comum. O escritor baiano também pontuou sobre a importância da FLIPELÔ.

“As festas literárias são importantíssimas para disseminar a leitura e possibilitar o encontro do leitor com o escritor. Nossa vida, nossa atividade de escritor não existe sem o leitor. Espero que cada vez a gente tenha evento como este. A FLIPELÔ já é um evento consolidado, já faz parte do calendário cultural de Salvador e espero que continue assim por muitos e muitos anos”, afirmou Itamar Vieira Júnior.

Outras artes
A música também teve seu lugar de destaque, afinal Salvador, também, é a Cidade da Música. Foram 30 apresentações musicais e espetáculos artísticos promovidos no Palco FLIPELÔ, montado no Largo do Pelourinho, e no palco do Cruzeiro de São Francisco, além do coreto do Largo do Santo Antônio Além do Carmo. Grandes nomes da música nacional e baiana como Zezé Motta, Cláudia Cunha, Xangai, Juliana Ribeiro, Lazzo Matumbi, Didá Banda Feminina e Gerônimo Santana soltaram a voz.

O baiano Gerônimo fez o show de encerramento da FLIPELÔ 2022 no Largo do Pelourinho | Foto: Ricardo Prado/Divulgação

As crianças tiveram uma programação especial no Terreiro de Jesus no ‘Espaço Infantil Mabel Veloso’. A Praça também recebeu o Espaço Sustentabilidade e o Espaço Acessibilidade Cultural, colocando o tema ambiental e a inclusão social em destaque.

As rotas dos Museus, das Artes e Gastronômica Amados Sabores proporcionaram um circuito pelo Centro Histórico, sintonizando o público com a cultura produzida em Salvador em conexão com o tema da FLIPELÔ 2022: os personagens de Jorge Amado, criaturas que traduzem a imagem do povo, da cultura e da diversidade da Bahia marcada no imaginário de todos e que fazem com que o leitor se identifique como protagonista das suas histórias.

Sete equipamentos culturais integraram a ‘Rota dos Museus’. 11 ateliês fizeram parte da Rota das Artes. 36 bares e restaurantes fizeram pratos em homenagens aos personagens de Jorge Amado na Rota Gastronômica Amados Sabores. Teve premiação às melhores obras da Rota das Artes.

O júri técnico elegeu a foto “Voa Passarinho”, do artista Álvaro Vilela, baseado na obra Capitães da Areia, como a melhor, ganhando o prêmio de R$ 2.000. Em segundo lugar, com o prêmio de R$ 1.500, ficou a obra de Luiz Folgueira, baseada no livro Mar Morto. Já, com mais de 5 mil pessoas participando da votação on-line, o júri popular escolheu a obra “Cacau”, do artista plástico Anunciação como a melhor da Rota das Artes, premiado com R$ 1.000.

No concurso ‘Amados Olhares’, mais de 200 fotografias inspiradas no romance ‘’A Bola e o Goleiro’’ concorreram, sendo que, somente na fase final,  mais de 1.760 votos totais garantiram que a fotografia de Bira Mends fosse a grande campeã. Em segundo lugar, a foto de Mônica Barbosa, seguida pela foto de Mário Edson. Os premiados receberão R$ 1.500, R$ 1.000 e R$ 500, respectivamente.

A festa de encerramento da FLIPELÔ 2022 contou com as apresentações de Claudia Cunha e de Gerônimo Santana, em homenagem a Jorge Amado. O Largo do Pelourinho foi tomado pelo público que festejou mais uma edição de sucesso da maior festa literária baiana.

A FLIPELÔ é um evento é realizado pela Fundação Casa de Jorge Amado, em correalização com o Sesc e produzido pela Sole Produções.