Revista Sobrado
Foto: Rosilda Cruz / Bahiatursa

A ausência dos festejos juninos e o impacto na economia baiana

Sem balões no ar, sem xote e baião no salão – assim serão os festejos juninos nordestinos, pelo segundo ano consecutivo. Devido à pandemia da covid-19, as praças não serão enfeitadas, os palcos não serão montados e o trio musical (sanfona, triângulo e zabumba) não convidará o povo a dançar.

A não realização de um dos festejos mais tradicionais de nosso país é um grande baque cultural e também econômico, já que os festejos movimentam uma parcela importante da economia local e contribuem para o sustento de milhares de famílias. De acordo com o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, a não realização da festa esse ano vai ocasionar um prejuízo em torno de R$1,2 bilhão.

A Bahia é o Estado mais impactado, já que os festejos movimentam todos os 417 municípios baianos. Em algumas cidades médias como Santo Antônio de Jesus, Amargosa, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas, a festa tem um grande potencial econômico. Em 2019, último ano dos festejos, as prefeituras baianas investiram cerca de R$ 190 milhões em serviços, como a montagem de estruturas, atividades culturais e contratação de artistas. A não realização do São João no ano passado significou um prejuízo de cerca de R$ 550 milhões na economia baiana e em torno de 50 mil empregos temporários deixaram de ser ofertados.

O impacto atinge toda a cadeia produtiva do ciclo junino, desde a produção de pratos típicos, licor artesanal, fogos de artifício, transporte aéreo, rodoviário, hotelaria e até o aluguel por temporada de casas.

Mas como a covid-19 segue ceifando vidas (23.354 óbitos), os casos seguem em alta (1.104.545 casos registrados), as UTIs com ocupação elevada (71%) e as vacinas em pouca quantidade (apenas 11% da população adulta tomou duas doses da vacina), os festejos juninos seguem suspensos. Mês passado, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que está proibida a realização de festas durante o período junino para evitar um novo avanço da pandemia.

O decreto estadual que proíbe a realização de festas públicas e privadas no período junino também suspende o transporte intermunicipal de passageiros durante as datas festivas, para evitar a circulação de pessoas. Ano passado, após o período junino, a Bahia teve uma alta de novos casos da covid-19.

Foto: Andréa Rêgo / Fotos Públicas

Amenizar os impactos
Buscando reduzir os impactos negativos da não realização dos festejos juninos, a União dos Municípios da Bahia (UPB) enviou ofício à Bahiatursa. A entidade propôs que a instituição estudasse a possibilidade de liberar os recursos para a realização de lives dos festejos juninos em 2021 usando um formato mais simplificado e menos burocrático que nos anos anteriores.

“Os artistas, o segmento da cultura e entretenimento, de uma maneira geral, são grandes penalizados com a pandemia. Estamos propondo uma forma mais simplificada de promover investimentos dos festejos juninos nos municípios, a exemplo da realização de lives, o que traria benefícios imediatos para a classe”, avalia o presidente da UPB e prefeito de Jequié, Zé Cocá.

Para o presidente da UPB, a simplificação do processo beneficiaria de forma significativa artistas e fazedores de cultura. “Estamos propondo a liberação para um número maior de municípios, mesmo que os recursos sejam em valores menores, mas que atendam a um volume maior de prefeituras para que elas levem os benefícios a sua população e aos artistas locais”, completa.

Zelito Miranda, um dos maiores nomes do forró baiano, classificou como positiva a iniciativa da UPB. “Achei uma ação super válida, importante e democrática, até porque o poder público como um todo já faz isso através de editais. E o pedido vai atender um outro tipo de artista que hoje está começando sua carreira, que está no interior do Estado na sua luta. O nosso interior baiano tem muitos artistas ligados à cultura junina. E é preciso chegar uma ajuda, um cachê pra essa galera, que ajuda a movimentar essa festa linda que é o São João”, defende.

Mas, em resposta à UPB, também via ofício, a Bahiatursa informou que “encontra-se impedida de atender o referido pleito em decorrência da ausência de dotação orçamentária para tal fim”. Em resposta à Sobrado, a assessoria da Bahiatursa disse que o órgão tem apenas o papel executivo, cabendo ao governo estadual definir por tal demanda. A assessoria do governador também nos respondeu, pontuando que não havia verba prevista para tal fim.

Buscamos um posicionamento do Ministério do Turismo, a quem está vinculada a Secretaria Especial da Cultura (Secult). Foi destacado que governo federal “destinou R$ 3 bilhões para a Lei Aldir Blanc, para socorrer o setor cultural”, e que foi criado “Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) que tem ajudado muito, agora será definitivo e com 20% dele reservado, exclusivamente, para o setor de eventos”. E, “fora isso, estamos agora trabalhando com a Secult, para disponibilizar em torno de R$1 bilhão para o setor de eventos, que é o que mais sofreu na pandemia, diretamente com os artistas e com as prefeituras”.

Forró em casa
Apesar do pouco apoio, os artistas estão se virando para manter a tradição e levar alegria do forró para a casa dos baianos através de lives. Zelito Miranda realiza pelo segundo ano consecutivo o Arraiá do Rei. O primeiro show desta temporada aconteceu no último dia 13. Ele volta aos palcos no dia 23 e dia 29, às 20h.

No repertório, Zelito vai cantar os seus sucessos como Do Jeito Que Seu Nego Gosta, Forró Porreta, Na Lama e músicas da tradição do São João para que todos se sintam acolhidos nesse momento de isolamento social. Serão duas horas de muito arrasta pé, com transmissão pelo YouTube [acesse aqui].

“Devido à pandemia tivemos que nos reinventar para fazer acontecer as coisas. Para nós forrozeiros, o São João é muito importante. Por isso, estamos preparando uma live bem legal, com muito forró e animação. Queremos levar a alegria dos festejos juninos para a tela da TV e do celular. Vai ser um lindo encontro virtual”, garante Zelito.

Zelito Miranda realiza a live show Arraía do Rei pelo YouTube, dias 23 e 29/06, 20h | Foto: Clarice Miranda / Divulgação

Também na noite do dia 23, teremos muito forró na segunda edição do Festival de Economia Solidária São João da Minha Terra, com as participações de Del Feliz, Amadeu Alves, Quadrilha Girassol do Iguape, Balanço Swingado e Jairo Barboza. Na noite do dia 24, quem garante a animação do público em casa é Zelito Miranda, Amadeu Alves, Zé Costa, Rennan Mendes, Cícero e Sofia Leão, e Viny Borges. O festival é uma realização da Superintendência de Economia Solidária e Cooperativismo (Sesol), ligada à Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre). As transmissões serão realizadas pelas redes sociais – @economiasolidariaba.

No dia 24, será também a vez de Adelmário Coelho com a live show Meu São João é Assim, a partir das 19h, no YouTube [acesse aqui]. Para quem ainda tiver fôlego, no dia 26, a partir das 19h15, com transmissão na TV Aratu (Canal 4) e no YouTube [acesse aqui], acontece a edição especial Galinho #DendiCasa, com Solange Almeida, Forró do Tico, Tayrone, Danniel Vieira, Tierry, Erik Land, Toque Dez e Rafa Almeida.