Revista Sobrado
Foto: Pedro Moraes / GOVBA / Divulgação

Escola Olodum: mais de três décadas cumprindo atendimento social

Inaugurada em 25 de outubro de 1984, a Escola Olodum é um espaço de troca de experiências da comunidade afrodescendente e – logo de início e se mantendo ao longo desses 36 anos – uma referência nacional e internacional pela inovação no trabalho com arte, educação e, também, acreditando na pluralidade cultural. São milhares de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, atendidos durantes essas mais de três décadas de funcionamento da instituição. 

Em entrevista à Sobrado, Cristina Calacio, gerente executiva de Projeto Escola Olodum, afirma que o projeto social transformou a realidade de muitas crianças e adolescentes. “A música abriu novas perspectivas para esse público, mostrando que as políticas de integração social e de inserção dos jovens através da arte são um forte instrumento de mobilidade social”, destaca.

A gerente executiva ressalta que os jovens que foram acolhidos pelo projeto exercem também papel multiplicador em suas comunidades. “[Eles] Assumem responsabilidades dentro de seus núcleos, na medida em que se tornam monitores/multiplicadores”, pontua.

Cristina Calacio destaca a importância que o Projeto Social Escola Olodum vem desempenhando e assegura que objetivo inicial, de 36 anos atrás, segue atual.  “O objetivo essencial é o combate à discriminação racial, buscando estimular a autoestima da nossa população afrodescendente. Bem como, defender os direitos civis e humanos, preservar e valorizar a cultura negra, buscando contribuir para a identidade cultural de – crianças, jovens e adolescentes – de baixa renda da cidade de Salvador, assegurando uma sociedade mais plural”, enfatiza.

Ela também ressalta o impacto social que projeto social alcança. “O impacto é tão grande, que despertou o interesse de expressivas lideranças globais, recebedores do Prêmio Nobel da Paz em visitar, conhecer e valorizar o nosso trabalho como o Nobel da Paz Nelson Mandela, Bispo Desmond Tutu, Leymah Gbowee, Malala Yousafzai e muitas outras autoridades”, diz Calacio.

Educação popular afro brasileira
A Escola Olodum é pioneira na educação popular afro brasileira. Teve origem no projeto Rufar dos Tambores, desenvolvido em 1984, pelo Olodum. Essas ações inovadoras nortearam e possibilitaram o surgimento de iniciativas, como  o grupo Afro Reggae, no Rio de Janeiro; Grupo Unidos do Quilombo, em Sergipe; Régua e Compasso, Arte no Dique, Meninos do Morumbi em São Paulo; Bagunçaco, Paracatum, Escola Mãe Hilda, Instituto Ara Ketu, Projeto Axé, em Salvador; e muitas outras iniciativas espalhadas pelo Brasil.

O Projeto Escola Olodum, quando nasceu, visava atender uma solicitação da comunidade do Maciel/Pelourinho para que fosse formada uma banda de percussão integrada por crianças e adolescentes do bairro, mas foi notada uma potencialidade maior e, atualmente, o projeto atende aos jovens de toda a cidade de Salvador.

Quando foi decretado o isolamento social em Salvador, devido à pandemia do novo coronavírus, o Projeto atendia um público de 800 crianças, jovens e adolescentes com diversas atividades. De acordo com Calacio, hoje o Projeto atende e oferece cursos, respeitando rigorosamente os protocolos e medidas de segurança recomendados pelas autoridades, para prevenir a proliferação do coronavírus. 

O Projeto Social Escola Olodum foi criado e é mantido pela Associação Carnavalesca Bloco Afro Olodum, organização não governamental. O projeto em sua trajetória tem recebido o apoio crescente do público e de parceiros. Há também o apoio do poder público. “As esferas privada e governamental precisam estar presentes para garantir um futuro melhor para nossas crianças, adolescentes e jovens, e consequentemente para toda a sociedade”, defende Calacio.

As matriculas para cursos ofertados depende dos critérios de cada projeto. No momento, apenas o Projeto Obirín Olodum (Mulheres Olodum) é o que está funcionando, neste retorno gradual, e tem como público-alvo as mulheres. “Em tempos de anormalidade sanitária, são elas que veem suportando desproporcionalmente os impactos causados pela Covid-19. As inscrições já estão abertas, através do formulário online, disponível na internet, e os critérios podem ser encontradas no edital e nas redes sociais do Olodum”, informa a diretora executiva da Escola Olodum.

Fundo Internacional de Ajuda da Alemanha
Dentre os cursos ofertados na Escola Olodum estão o de Dança Afro, Canto/Coral, Empreendedorismo Cultura, Informática Cultural, Formação de Lideranças e Seminários. Recentemente a Escola foi contemplada pelo Fundo Internacional de Ajuda da Alemanha, financiamento emergencial de apoio para organizações culturais e educativas durante a pandemia do coronavírus.

O Fundo foi criado a partir de uma iniciativa do Goethe-Institut e do Ministério Alemão das Relações Exteriores, e é destinado a apoiar, com agilidade, organizações culturais e educativas fora da Alemanha. Até dezembro, serão destinados mais 3 milhões de euros, que irão contemplar mais de 140 projetos de variados países. Dentre eles, foram contempladas duas iniciativas da Bahia: “Obirín Olodum”, da Escola Olodum, e “Acervo Digital”, do Acervo da Laje.

O Olodum é o primeiro bloco afro a abrir suas portas no chamado “período novo normal”. “Os recursos do edital estão possibilitando a realização e oferta de cursos de Novas Tecnologias e Empreendedorismo, Gestão de Mídias Sociais para Marketing Digital e Fotografia com Celular para Redes Sociais, fortalecendo o gênero feminino no momento de caminhos incertos economicamente”, pontua Calacio.

“Sabemos que não é nada promissor, principalmente ao gênero feminino que tendem a suportar com maior prejudicialidade os efeitos nefastos que a pandemia trouxe às pequenas empreendedoras e às trabalhadoras informais. Assim, entendemos que a necessidade de cursos que fomente a economia e o empoderamento feminino é extremamente urgente diante da realidade em que vivemos”, completa.

Helaine Santos de Jesus, aluna da Escola Olodum, conta que a aprendizagem foi muito importante para seu crescimento pessoal e possibilitou uma visão ampliada do novo mercado e como ser uma empreendedora de sucesso. “Nós precisamos enxergar além do nosso horizonte. O empreendedor precisa entender o seu mercado, organizar suas finanças, aprimorar sempre o seu produto e estar atento as transformações digitais. Afinal, conhecimento é sempre um diferencial”, defende.

Ela também frisa que os cursos ofertados pelo Projeto Obirín Olodum estão conectados com as necessidades atuais do mercado, abrindo horizontes para saber fisgar novas oportunidades. “O curso de empreendedorismo possibilitou entender e identificar problemas e oportunidades, construir soluções e respostas que possam gerar mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas”, relata.

Cristina Calacio afirma que “o mercado e a sociedade são segracionistas” e que “o mercado ainda é muito segregado pelo gênero e outros preconceitos diversos”. Para ela, a pandemia segregou ainda mais com o isolamento de pessoas do grupo de risco. Daí ela destaca porque o Projeto Obirín Olodum é ofertado justamente dentro desse recorte, sobre essa segregação.

“A instituição Olodum desenvolve os Projetos Especiais, entre eles o Obirín Olodum que visa a qualificação do gênero feminino para o mercado de trabalho, através da realização de cursos gratuitos que possibilite a descoberta de uma nova profissão ou a qualificação para uma boa vaga de emprego. Com a pandemia, a mulher tornou-se ainda mais invisível, suportando desproporcionalmente os impactos causados pela Covid-19. Essa dificuldade aumenta mais ainda para mulheres que estão em situações mais vulneráveis”, diz Calacio.

E, finaliza afirmando que “o projeto Obirín Olodum e o Fundo Internacional de Ajuda veem propor medidas concretas na tentativa de impedir uma sistemática violação aos direitos humanos femininos”.

As vagas para os cursos básicos de ‘Gestão de Mídias Sociais para Marketing Digital’ e ‘Fotografia com Celular para Redes Sociais’ do Projeto Obirin Olodum ainda estão abertas. A carga horária é de 30 horas e serão realizados no modo presencial. São 15 vagas para cada curso. As aulas acontecerão na sede da Escola Olodum (Endereço: Rua das Laranjeiras, 30 – Pelourinho, Salvador – BA, 40026-230). A inscrição é feita pelo formulário online, disponível no site www.olodum.com.br.