Revista Sobrado
Em 2018, o samba junino foi reconhecido como patrimônio imaterial da cidade de Salvador | Foto: Gilucci Augusto / Divulgação

Prêmio salvaguarda Samba Junino como Patrimônio Cultural de Salvador

Sabe o que existe em comum entre os cantores Tatau (ex-vocalista da banda Araketo), Márcio Victor (vocalista da banda Psirico), Ninha (ex-vocalista da banda Timbalada) e Reinaldo (ex-vocalista da Terra Samba) – além de artistas que estão ou passaram por grandes bandas da música baiana? Todos eles vieram do samba junino, manifestação cultural popular que surgiu em Salvador na década de 1970, ligado aos terreiros de candomblé.

Nordeste de Amaralina, Engenho Velho de Brotas, Pau Miúdo, Federação, Cidade Nova, Canabrava, Engomadeira, Barros Reis, São Caetano e Garcia são alguns dos bairros que têm suas ruas tomadas por desfiles de grupos de samba junino entre os dias 23 de junho a 2 de julho.

Tendo o samba duro (compasso mais acelerado) como ritmo que o caracteriza, o samba junino tem grande parte de seu repertório composto de músicas de samba de roda, que trazem temas que se referem ao universo rural em suas letras. Aí está a sua ligação ao São João, cuja presença é infinitamente mais intensa no interior do estado.

Para manter viva esta expressão cultural genuinamente soteropolitana, em 2013 foi criada a Liga do Samba Junino, formada por 17 grupos culturais. A entidade cumpriu um papel importante na luta pelo reconhecimento do samba junino como patrimônio imaterial da cidade de Salvador. O processo de Registro Especial do Patrimônio Imaterial teve inicio em 2016, pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), à qual é vinculado o Conselho Municipal de Política Cultural de Salvador (CMPC), e foi finalizada em 2018, através do decreto municipal 29.489.

Prêmio
Como parte das propostas voltadas à salvaguarda do samba junino, de acordo às diretrizes de política cultural do município e do Registro Especial do Samba Junino como Patrimônio Cultural de Salvador, a FGM lança o edital do “Prêmio Samba Junino – Ano IV”.

Para Fernando Guerreiro, presidente da FGM, “investir na Salvaguarda do Samba Junino é de suma importância. Após o reconhecimento, é mais do que necessário garantir não só a preservação dessa manifestação cultural genuinamente soteropolitana, como também, incentivar o fortalecimento, a dinamização e a reinvenção desse movimento”.

Guerreiro lembra que, “durante o período de retomada, ainda dentro de uma fase intensa da pandemia, os grupos se debruçaram num trabalho de pesquisa e registro de memória, além das festas e shows nas plataformas virtuais, mostrando que toda tradição sempre tem espaço para criar algo novo, adaptando-se às exigências de cada época e indo para além, rumo à perpetuação de uma história viva.”

Samba junino é uma expressão cultural genuína de Salvador e tem laços com o candomblé | Foto: Gilucci Augusto / Divulgação

Inscrições e premiações
As inscrições podem ser realizadas até o dia 21 de março, através do site –www.culturafgm.salvador.ba.gov.br. As propostas selecionadas devem ser executadas, desde sua pré-produção, entre 1º de junho e 31 de julho de 2022. Este ano, o edital traz duas novidades: aumento no valor total do financiamento e no número de projetos contemplados.

Serão premiadas 15 propostas, que incentivem o fortalecimento, a divulgação, a manutenção e a dinamização do samba junino no município de Salvador, além das suas formas de produção e reprodução, através da realização de ensaios, festivais, concursos, apresentações, “arrastões”, oficinas, produção de material multimídia (DVD, jogos, aplicativos, conteúdo audiovisual), publicações, entre outras, no período junino, através de um aporte financeiro no valor total de R$ 300.000,00.

As propostas serão remuneradas em três categorias. Sendo que cada proponente deverá escolher apenas uma das categorias. São elas:

I) Simplificada: quatro propostas de R$ 12.500,00, cada uma delas envolvendo um grupo de samba junino e remunerando pelo menos três profissionais e/ou agentes culturais. Apenas proponentes inscritos como Pessoa Física poderão concorrer a esta categoria;

II) Coletivos: dez propostas de R$ 20.000,00, cada uma delas envolvendo pelo menos dois grupos de samba junino e remunerando pelo menos cinco profissionais e/ou agentes culturais;

III) Festival: uma proposta de R$ 50.000,00, envolvendo pelo menos quatro grupos de samba junino, através de festival que estimule novos compositores, concurso de rainhas, oficinas, apresentações, etc., remunerando pelo menos 15 profissionais e/ou agentes culturais.

Serão classificadas até dez propostas suplentes, caso tenha insuficiência de demanda ou inadequação das propostas às disposições do Edital, sendo: duas para a categoria Simplificada, duas para a categoria Festival e seis para a categoria Coletivos.

O edital também prevê a reserva mínima de 50%, do valor total da premiação, para proponentes autodeclarados negros (pretos ou pardos), perfazendo o valor mínimo de R$ 150.000,00.

Vagner Rocha, Gerente de Patrimônio Cultural da FGM, ressalta que “a criação de três categorias busca contemplar a diversidade de agentes culturais que fazem o samba junino acontecer, levando em conta que nem todos têm a expertise de elaboração de projetos, mas possuem bastante experiência prática e conhecem bem as necessidades dos seus grupos”.

“Além da categoria Simplificada, a categoria Festival é outra novidade deste ano. Ela foi pensada para potencializar o intercâmbio entre os grupos de Samba Junino e fomentar ações mais estruturantes, conforme prevê o Plano de Salvaguarda deste patrimônio imaterial da nossa cidade” completa.

Linha de ação
É exigido, pelo edital do Prêmio, que os projetos prevejam pelos menos duas das seguintes linhas de ação:

I. Formação: oficinas de levada rítmica, de dança, de confecção de instrumentos, de criação e confecção de indumentárias e adereços, ações griôs, dentre outros similares, específicas do samba junino;

II. Memória: produção multimídia (fonogramas, jogos, aplicativos, conteúdos audiovisuais), pesquisas, publicações e outras formas de registro dos fazeres relacionados ao samba junino;

III. Fruição: ensaios, festivais, concursos de rainha, apresentações, arrastões de samba junino.

As ações podem ser desenvolvidas nos formatos presencial, virtual ou híbrido. As propostas deverão indicar as medidas que serão adotadas para o atendimento aos protocolos sanitários municipais vigentes à época para controle do Coronavírus (SARS-CoV2) e estão sujeitos a sanções previstas em contrato, em caso de seu descumprimento.

A FGM dispõe um e-mail para tirar as dúvidas do edital: premiosambajunino@salvador.ba.gov.br.