Revista Sobrado
Foto: Adamy Gianinni / Pixabay

Projeto ‘Tessituras do Saber’ lança cartilha e e-book sobre patrimônio cultural

O que é um patrimônio cultural? Qual sua importância? Como preservá-los? Quais patrimônios culturais temos em Salvador? Todas essas perguntas serão respondidas pelo projeto Tessituras do saber: patrimônio, memória e identidade, que lança um ciclo de ações sobre educação patrimonial.

Coordenado pela cientista social e administradora, Adriana Cerqueira, com a participação da mestre em Cultura e Sociedade, Magnair Barbosa e da mestre em Estudos Étnicos e Africanos, Nívea Alves Santos, o projeto consiste na elaboração de um e-book, direcionado ao público adulto, e uma cartilha, voltada para o público infanto-juvenil, com ilustração do grafiteiro Bigod.

De acordo com Adriana Cerqueira, a ideia principal é disseminar informações, a partir de conceitos e delimitações sobre patrimônio cultural, com linguagem leve e acessível. Para ilustrar essa linha de pensamento, foram listados e catalogados todos os bens culturais patrimonializados na cidade do Salvador, até 2020, por meio da Lei Municipal nº 8.550/2014 e os meios de preservação cultural.

“O objetivo é que qualquer cidadão, de todas as idades, seja capaz de promover essa identificação e, na sequência, o reconhecimento do que vem a ser um bem cultural, para depois despertar, em cada pessoa, atitudes e consciência de cidadania e, consequentemente, valorização e preservação desses bens”, ressalta Adriana Cerqueira.

Ela também acredita que “a proposta atende as linhas de ação, formação e memória, tendo em vista a necessidade de conhecimento acerca das definições em torno do patrimônio cultural, campo delimitado que requer instrução a fim de que seja possível reconhecer os seus conceitos, sentidos e significações, por meio de uma orientação técnica, com linguagem mais acessível para o cidadão soteropolitano”.

Adriana alerta que este tema não assunto apenas para estudiosos e pesquisadores, que essa falsa ideia precisa ser desmistificada.  “Falar de cultura, identidade, patrimônio, referências culturais, saberes, memória coletiva, oralidade, diversidade cultural, preservação, monumentos, salvaguarda, são questões de cidadania e podem promover uma mudança no comportamento de cada pessoa, desde como olham para a cidade em que vivem, como o cuidado com cada bem que entenderá ser algo que tem um motivo para estar ali e registra parte da história desse lugar e da construção de quem somos. É nossa história, ali”, pondera a cientista social.

Já a mestre em Estudos Étnicos e Africanos, Nívea Alves Santos, acredita que o projeto vai contribuir de forma efetiva para o conhecimento de um tema importante, que é parte da nossa cidade, mas que por vezes é esquecido pela sociedade. “O patrimônio cultural é vivenciado por toda a sociedade, mas por vezes não valorizado da forma como deveria ser. Então foi para mim a oportunidade de compartilhar informações e contribuir para a valorização e preservação desses bens culturais tão caros para a sociedade como um todo”, diz à Sobrado.

 “O e-book e a cartilha irão abrir um leque de conhecimento acerca da construção de políticas públicas para a preservação e salvaguarda do patrimônio cultural e de que forma a sociedade pode atuar enquanto agente para promover a valorização e proteção desse patrimônio”, completa.

A Baiana de Acarajé e os deliciosos quitutes, patrimônios culturais da Bahia. Foto: Rosilda Cruz/ Secult Bahia

Público infantil
As crianças são um dos alvos principais do projeto Tessituras do saber: patrimônio, memória e identidade. A cartilha, ilustrada pelo grafiteiro Bigod, além de ser disponibilizada gratuitamente na internet, junto com o e-book, será distribuída nas unidades escolares da rede municipal de ensino, com cronograma e logística alinhados com a Secretaria Municipal da Educação (SMED), incluindo as escolas localizadas na Ilha de Maré e em comunidades quilombolas.

A mestre em Cultura e Sociedade, Magnair Barbosa explica a importância do envolvimento do público infanto-juvenil. “É preciso despertar nas crianças o interesse, por meio da informação. O conhecimento é capaz de promover uma verdadeira transformação, alcançando uma parte da população que vai crescer reconhecendo, não apenas os patrimônios culturais da cidade, como identificando em cada um desses bens, a sua própria história, sua identidade, o sentimento de pertencimento. E, isso, com certeza, firma base de um povo mais ativo em defesa dos seus direitos e conscientes dos seus deveres”, frisa.

Quanto à confecção da cartilha, Magnair Barbosa ponderou que foi um desafio buscar uma forma de falar de maneira instigante. “Como sou apaixonada pela área de patrimônio cultural, falar sobre o assunto não era o problema. Encarado o desafio e com a parceria de Bigod, que desenhou os bens e os personagens de maneira tão fidedigna e ao mesmo tempo, lúdica, vendo a cartilha diagramada e ilustrada, a sensação é de que eles irão amar”, pontua.

O grafiteiro Bigod não esconde a alegria em ter disponibilizada a sua arte para representar os bens patrimonializados de Salvador. “Foi muito divertido fazer essas ilustrações, desses monumentos que ficam em meu caminho, locais que passo e vejo, foi bom demais. Saber que a capoeira foi considerada imortal, que nossos ícones aqui da Bahia são patrimônio histórico, alguns até reconhecidos mundialmente. Isso me deixou muito feliz”, relata.

Toda a cartilha perpassa pela história de três personagens infantis, criados por Bigod. A inspiração, ele buscou no seu dia a dia. “São três personagenzinhos, que são a cara dos meninos aqui da quebrada, aqui da comunidade. Eu vejo cada um deles aqui, por aqui, com a curiosidade e a vontade de querer saber por onde eu estava, por onde andei, o que pintei. Eu trago muito para a ilustração, aquilo que eu vivo com o grafite, aquilo que eu vivo na rua”, diz.

Ele também ressalta a força que é retratar a história do seu lugar. “Para a gente, como artista da terra, é muito forte, desenhar aquilo que a gente viu desde pequeno e que nem sabia se era tombado ou não. Tudo isso que a gente vive, que a gente respira, a capoeira, a história, o axé, a Bahia. Isso inspira e retroalimenta a gente. Os desenhos vão para fora, para o mundo, mesmo a gente estando aqui, e fica o registro da parte da história contada por um artista da terra, a gente tem esse papel de mostrar, com as palavras e com  o desenho, o que antes era só a casa grande, a nossa realidade”, finaliza.

Datas
No próximo dia 20, às 19h, acontece o lançamento do projeto Tessituras do saber: patrimônio, memória e identidade, com a participação de Adriana Cerqueira, Magnair Barbosa e Nívea Alves Santos, com transmissão no canal da Fundação Gregório de Mattos (FGM) no YouTube.

A partir do dia 18, a cartilha e o e-book estarão disponíveis gratuitamente no Instagram @cavalo_marinho_sociocultural e no site da FGM.

Do dia 24 ao dia 28, as cartilhas infanto-juvenis, com ilustração de Bigode, serão distribuídas nas escolas da rede municipal de ensino, junto com folhetos, como orientações aos professores do fundamental II, a usarem o material em sala de aula com os alunos.

O projeto Tessituras do saber: patrimônio, memória e identidade foi contemplado no Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.