Revista Sobrado
Arte: Yago Vieira / @yagoquefez

Espaços das culturas em tempos de pandemia: Um ensaio entre a poética da gestão e a (re-)existência

MOJUBÁ! A benção e licença das mais velhas e mais novas, proteção e iluminação da nossa ancestralidade. Foi assim que aprendi a fazer antes de pisar em terras alheias, com a minha mãe, a minha avó e tantas outras mulheres que presentes na constituição do meu ser. Nesse início de prosa, cabe ainda ressalvar que, ao saudar o feminino, estou me reportando à totalidade, considerando que a população brasileira é composta em sua maior parte, 51%, por mulheres. Isso posto de início, espero não estar ofendendo com o meu pedido de benção e com o meu tratamento no feminino plural, nem a religiosidade nem a masculinidade de quem se propor a ler estes escritos.

Ao me convidar a contribuir com este projeto de um jornalismo cultural diferenciado, a Sobrado, acabou remexendo inquietudes que tenho por refletir e escrever sobre muitas matérias relacionadas à cultura e que me tem sido cada vez mais caras e urgentes. Acabei optando por abrir a gira desta parceria com um assunto que nos últimos 14 anos, dessas duas décadas de percurso profissional por diversos caminhos da cultura, tem me atravessado cotidianamente: a gestão cultural, e para ser ainda mais preciso, a gestão de espaços culturais.

Aproveito, então, este espaço para revisitar a expressão poética da gestão, cuja reflexão e tentativa de delimitação conceitual foi inaugurada pelo artigo A poética da gestão em espaços culturais: a experiência do Cine Teatro Solar Boa Vista, publicado no livro Um lugar para espaços os espaços culturais: gestão, território, públicos e programação, organizado por Giuliana Kauark, Plínio Rattes e Nathália Leal (2019). Naquela ocasião, tomei a experiência vivenciada à frente da coordenação do Cine Teatro Solar Vista entre 2007 e 2014 para tentar compreender aquilo que o diretor teatral Diego Pinheiro, ao me entrevistar para a Revista Barril, identificou como marca da minha atuação na esfera cultural: a poética da gestão.

Aqui, ao retomar as reflexões sobre esta instigante expressão, busco lançar um olhar, ainda que de relance, para o contexto atual da pandemia do novo coronavírus e os impactos ocasionados na poética da gestão de espaços culturais, identificando meios encontrados para a (re-)existência daqueles ambientes destinados ao “acolhimento, criação e divulgação de bens e produtos culturais”, como os define Giselle Nussbaumer. Considerando que uma das principais medidas para conter a proliferação da covid-19 é justamente evitar aglomerações e promover o distanciamento e o isolamento social, foi inevitável o fechamento, dentre outros estabelecimentos, destes espaços fundamentais à produção e disseminação de práticas culturais e bens simbólicos.

De acordo com Fernando José Barros (2014), a palavra espaço, em seu étimo latino spatium, significa “estar aberto”. Este autor considera o espaço como o “lugar ou tempo onde podem acontecer coisas”. E ainda complementa:

tanto nossas relações sociais quanto nossas artes e formas de educar vão sendo ressignificadas e se aproximando de lógicas co/inter/trans/multi... E o melhor lugar para experimentar essas mudanças que vão ocorrendo, para construí-las, é justamente esse espaço de espaços que surgem, que emergem em diferentes lugares como espaços de liberdade criativa e projetiva (p. 44)

Ao organizarem Um Lugar para os espaços culturais, coletâneas de artigos acerca da gestão, territórios, públicos e programação, Kauark, Rattes e Leal (2019) apontam uma distinção entre espaços e equipamentos culturais. Eles compreendem:

Espaços culturais como aqueles “locais que, a princípio, não foram construídos com a função de abrigar atividades culturais, mas, dependendo de seus usos e apropriações, podem também ser destinadas a elas – é o caso das praças, largos, parques, escolas, entre muitos outros”.
Equipamentos culturais “como edifícios construídos com o objetivo de produzir e disseminar práticas culturais e bens simbólicos. Ou seja, espaços concebidos para acolher uma ou mais expressões culturais e atividades correlatas”.

Em um sentido amplo, podemos considerar o espaço cultural como aquele lugar e/ou tempo onde podem acontecer coisas relacionadas à produção, disseminação, apreciação e interação com práticas culturais e bens simbólicos em sua mais ampla liberdade criativa e projetiva. É no espaço cultural que ocorrem formulações e intervenções das políticas culturais, bem como o acionamento de procedimentos institucionais e gerenciais imbricados à gestão cultural. O espaço cultural é, portanto, um lócus de encontros, conexões e trocas, aberto à criação e ao acontecimento de ações culturais, dentre outras dinâmicas que permitam transformações individuais e sociais. É também no espaço cultural que se dá, aquilo que Montesquieu em seu Ensaio sobre o gosto, amplamente citado por Teixeira Coelho (2008), nomina de “ampliação da esfera de presença do ser”.

E o que faz um gestor cultural?

Eis uma pergunta que ouço rotineiramente nos últimos 14 anos em que tenho me dedicado à gestão cultural, ou melhor, à gestão de espaços culturais. Se ao redor da cultura, em sua complexidade conceitual, já pairam vários enigmas, quanto mais em relação à gestão cultural, campo recente no percurso da institucionalização cultural no Brasil, somente despontado a partir da década de 1980. Em sua dissertação de mestrado, Maria Helena Cunha (2005) defende a gestão cultural com uma profissão ainda em formação. De acordo com esta autora, a base da constituição profissional do gestor cultural, que se apresenta em múltiplos perfis, se perfaz em um jogo de relações e saberes que perpassa pela reflexão autodidata e processos de sensibilização cultural, pela tomada de decisão, até alcançar sua consolidação no mercado de trabalho.

Quando esteve à frente do extinto e saudoso Ministério da Cultura, o cantor Gilberto Gil (2005) chegou a alertar que a “gestão cultural não é só gestão de recursos financeiros ou materiais. É gestão de recursos humanos, criativos, de conceituação […]”. Em outras palavras, Nussbaumer diz que: “não podemos mais entender os gestores culturais como simples administradores, mas como agentes culturais integrados com as problemáticas locais, capazes de desconstruir imaginários hegemônicos e buscar produzir novas representações”. 

Em seu cotidiano, o gestor cultural lida com um conjunto de componentes que vai da administração de recursos humanos, materiais e financeiros, aos contextos sociais e comportamentais, atravessando ainda a esfera do simbólico e suas subjetividades. Tudo isso exige dos profissionais que atuam nessa área não apenas o desenvolvimento de habilidades técnicas para operar com as intempéries inerentes ao setor cultural, incluindo muitas vezes a escassez de recursos financeiros e materiais, a pouca qualificação dos recursos humanos, a insensibilidade de outros gestores, especialmente daqueles que com maior poder de decisão, para a importância dos investimentos no setor, e assim por diante. E não somente isso, o gestor cultural também precisa aguçar a sensibilidade para lidar com o intangível, com o maleável, com o inusitado, com o fluido, dentro de engrenagens rígidas e pouco moventes. 

Kauark, Rattes e Leal advertem para que os gestores de espaços culturais “reflitam constantemente suas relações com criadores e públicos, com a própria produção cultural contemporânea, e que sejam, ao mesmo tempo, capazes de lidar com procedimentos, tais como, planejamento, gerenciamento e rotinas administrativas, obviamente adequados às especificidades do setor cultural”. Ou seja, a formação e a atuação do profissional da gestão cultural acaba não se dando a partir de uma monotemática, mas sim, de maneira co/inter/trans/multidisciplinar.

Ao cunhar a expressão poética da gestão, Pinheiro observava as performances de gestores culturais atuantes em espaços públicos, cujas atuações profissionais se distinguiam na cena soteropolitana. Para o diretor teatral, havia nas escolhas feitas por aqueles gestores, uma maior sensibilidade e criatividade, possibilitando traçar contornos curatoriais diferenciados e, ao seu ver, poéticos, nas programações dos espaços culturais por eles geridos. Para Pinheiro, essa distinção se faz evidente nas programações propostas por certos gestores que agregam e potencializam conteúdos, atores e públicos relacionados a assuntos como negritude, da mulher, dos LGBTQIA+, da infância, da juventude, do idoso e assim por diante.

Instigado pela provocação feita pelo diretor teatral, passei lançar um olhar mais atento não apenas para as atuações dos colegas, mas também mergulhei em um processo de autoanálise, na tentativa de compreender aquele diferencial observado por Pinheiro e tentar uma delimitação mais precisa para aquela expressão. Tenho notado que a poética da gestão não se restringe tão somente ao desenho da programação proposta por aqueles gestores, mas perpassa os diversos setores da gestão cultural. A sensibilidade e a criatividade do gestor cultural interagem e interferem nos diversos processos decisórios. Seja o gerenciamento de pessoal, seja a forma de lidar com os recursos, em geral escassos ou pouco qualificados, seja a compreensão dos contextos e o envolvimento com as comunidades onde os espaços estão inseridos, seja o nível de participação destas comunidades nos processos decisórios, seja a inovação e o tempo de resposta das soluções em situações adversas, entre outros.

Embora meu olhar inicial tenha focado na performance de gestores que atuam em espaços culturais públicos, podemos perceber que a poética da gestão pode ser empregada por gestores que atuam em outros campos profissionais. Podemos, portanto, encontrar traços de uma poética da gestão, não apenas em espaços, instituições, empreendimentos ou projetos culturais, mas em diversos setores da sociedade também podemos encontrar gestores cujas atuações são permeadas por características sensíveis, criativas e poéticas. Kauark, Rattes e Leal, inspirados em Alfons Martinell, ponderam que

o campo da cultura não tem modelos próprios de gestão que os diferenciem de outras atividades da vida social. Outros setores, como as áreas de saúde, e educação, por exemplo, mantém modelos reconhecidos, consolidados e regulados, que permitem uma avaliação de seu funcionamento. Por conta da importância econômica, essas áreas são mais pesquisadas.

Pois bem, estamos em meados de agosto do inenarrável 2020. Diante dos cenários descortinados pela pandemia do novo coronavírus, há quem arrisque em constatar que somente agora chegamos ao século XXI, ao terceiro milênio. Há pouco mais de 150 dias, temos protagonizado cenas apocalípticas, no sentido bíblico da palavra, que só havíamos experimentado talvez como expectadores de películas ou leitores livros ficcionais. Multidões mascaradas vagando pelas ruas, enquanto que os desmascarados têm sido seres abjetos. Ruas silenciosas e desertas em horários de pico. Prateleiras vazias em supermercados. Falta de álcool em gel. Cheiro de água sanitária exalando das residências. Nada de toque, aperto de mão, abraço, cafuné, beijo ou outras expressões táteis de afeto. Aglomeração, nem pensar. O distanciamento e isolamento social como regra. O fechamento dos espaços culturais e todos os ambientes de lazer e entretenimento, inclusive as praças e praias, como determinação. E tantas outras esquisitices tem sido necessárias na tentativa de conter a proliferação de um vírus que até o momento já vitimou mais de 110.000 pessoas somente no Brasil, e sem contar as subnotificações.

E o que a pandemia tem haver com a poética da gestão?

Tomemos, pois, a suspensão das atividades culturais, o cancelamento de eventos programados, o fechamento dos espaços culturais, a impossibilidade de acesso a quaisquer ambientes de lazer e entretenimento. Imprescindíveis à mitigação da proliferação do coronavírus, notamos que tais medidas causam, no entanto, impactos drásticos e talvez irreversíveis à cultura, atravessando: a economia – queda da ampla circulação de recursos gerados pelo setor, elevado índice de desemprego e impossibilidade da geração de renda informal, falência e fechamento definitivo de importantes instituições culturais; o social – aumento das pessoas em situação de rua, maior ócio e vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens atendidas por projetos culturais; o antropológico – transformações acirradas em processos comportamentais e nas elaborações das identidades e identificações culturais; a saúde psíquica – as atividades culturais são válvulas de escape e terapia para muitas pessoas acometidas de depressão e estresse; e por aí vai.

Diante desse contexto desafiador, permeado por medos, inseguranças e incertezas, os agentes e, de maneira muito ímpar, os gestores culturais, têm passado por acelerados processos de adaptações, ressignificações e mudanças nos rumos de suas atuações, espaços, instituições, projetos e/ou negócios. Atividades presenciais sendo transformadas em virtuais, online; amplo uso da tecnologia, formatos e meios diferenciados de divulgação e mobilização de público; maior dispersão do público, ampla oferta e concorrência de atividades nas redes; são alguns dos entraves trazidos pela pandemia para o campo da cultura.

É possível a (re-)existência de espaços culturais em contexto pandêmico?

Notemos que o próprio conceito de espaço cultural, já tão ampliado, agora se dilata na direção da esfera virtual. Antes, desprezados e condenados por muitos fazedores de cultura, aqueles formatos de distribuição e acesso a conteúdos digitais, como stream, live, redes e outras plataformas virtuais têm se tornado ferramentas indispensáveis à manutenção da produção, consumo e fruição cultural. Cabe ressaltar que o assunto do uso da tecnologia como suporte das práticas culturais e bens simbólicos, embora esteja bastante em voga na atualidade, não se trata de uma novidade. Temas como o fim do livro por causa da internet, o fechamento dos cinemas por conta das plataformas de stream, o término das galerias e museus em detrimento das visitas virtuais, já vinham sendo constantemente trazidos à baila. Atualmente, muito ao contrário, a tecnologia e a virtualidade tem sido justamente a forma de sobrevivência e (re-)existência de muitos espaços, instituições e agentes.

Dia desses, no exercício da minha função enquanto gestor cultural público, precisei elaborar argumentos para a fundamentação teórica e legal, que justificassem juridicamente a proposta de transformação de atividades previstas para serem realizadas em espaços físicos, em atividades virtuais, transmitidas através de redes e plataformas digitais em formatos stream ou de lives. Encontrei em minha estante, uma daquelas revistas coleção do Observatório Cultural, datada de 2010, que trazia como tema “Novos Desafios da Cultura Digital” Em artigo publicados nesta revista, Fernando Vicarino e Tamara Diaz (2010) direcionaram aos gestores culturais questões inerentes à sua função em fase de eclosão dos processos de digitalização dos conteúdos culturais:

onde situar o processo dos ganhos e das perdas que são realizados por meio da cultura? As novas tecnologias estão irrompendo com força em um campo que ainda estava desenhando o perfil profissional de quem tem de geri-lo. Por isso, talvez uma das primeiras perguntas que deveríamos nos fazer é sobre as funções do gestor no terreno da cultura.

De maneira análoga, Kauark, Rattes e Leal também alertam que

os gestores de equipamentos culturais precisam estar atentos para as transformações contemporâneas do papel do público com o advento da democratização e popularização das novas tecnologias da comunicação, o que tem se tornado cada vez mais tênue a separação entre produtores e consumidores de cultura.

Se antes do contexto da pandemia, já existiam indagações quanto a função dos gestores culturais, no cenário atual de espaços culturais fechados, do uso das novas tecnologias, do hibridismo entre a produção e o consumo de cultura mais interrogações podem surgir. Observamos que a cultura, assim como outros campos da sociedade tem passado por um intenso e acelerado processo de reelaboração, ressignificação e reinvenção de suas concepções e práticas, que possibilitem a sobrevivência, ou como temos falado, a (re-)existência. Se o gestor cultural já abarcava uma multiplicidade de atuações e habilidades, acreditamos que a partir de agora e, por muito tempo, a compreensão e a utilização da tecnologia como espaço cultural, vai se tornar uma ferramenta indispensável na vida desses profissionais.

O ritmo alucinante com que as mudanças têm acontecido, o acúmulo de demandas e protocolos a serem cumpridos no sentido de prevenir a covid-19, as incertezas com relação ao momento atual e ao porvir, chamado por muitos de novo normal, não descarta as componentes criativas da atuação do gestor, muito pelo contrário. A sensibilidade, a inovação e, porque não dizer, o feeling precisam estar ainda mais aguçados, para que sejam desenvolvidas soluções capazes de dar conta das migração da produção cultural para o ambiente  virtual, o desenvolvimento de estratégias para mediação de públicos e formação de plateia. Nesse sentido, a título de exemplificação, cabe mencionar ao menos dois projetos dos quais participei da concepção e que se encontram em pleno funcionamento: o Cine Janela e o Espaços Culturais na Rede.

O Cine Janela surgiu, a partir da união com duas vizinhas no início da pandemia, as cineastas e produtoras Jamile Coelho e Cíntia Maria. A ideia era interagirmos com os nossos vizinhos, a partir das nossas janelas, com projeções de filmes no paredão do prédio em frente. Rapidamente, promovemos uma ampla aderência não apenas dos nossos vizinhos, mas de pessoas de outros bairros e cidades. A programação projetada e também transmitida por meio de lives nas redes sociais, passou a abarcar não apenas filmes, mas também espetáculos de teatro e dança, poesia concreta, videoclipes, desfiles de moda, exposições fotográficas, além de mensagens de saudade e outras interações com a comunidade, abarcando centenas de realizadores das diversas linguagens culturais. Em funcionamento há cinco meses, o Cine Janela que começou como uma alternativa voltada ao cinema, hoje funciona como um espaço cultural, ou melhor, como uma rede de espaços culturais, já que, além das janelas do Dois de Julho, o projeto expandiu para bairros como o Politeama e Barra e outras cidades como São Paulo e Espírito Santo. Com ampla repercussão na imprensa local e nacional, o Cine Janela se tornou bem querido por outros agentes e pela vizinhança, que chegou a nos reconhecer como “uma rede voluntária de afetos cinematográficos”.

Atuo na gestão de espaços culturais do município e na elaboração e implementação de políticas culturais voltadas para este setor. Com o fechamento desses espaços e sem conteúdos para movimentar as redes sociais, percebemos que estava acontecendo não apenas o afastamento físico do público, mas também de que estávamos perdendo público das nossas redes. Então, decidimos transportar algumas atividades que vinha acontecendo antes da pandemia com expressivos resultados de formação e mediação cultural, nos Espaços Culturais Boca de Brasa, localizados na periferia de Salvador e desde junho, temos realizado semanalmente um conjunto de atividades que vai desde cineclube a show de talentos, de batalha de stand up comedy ao solte o verbo, onde convidamos personalidades das comunidades a apresentar curiosidades sobre o bairro. Além disso, aproveitamos o momento para promover um mergulho na memória dos espaços culturais do município, realizando vídeos a partir de depoimentos que tem virado vídeos sobre os espaços, além do Diálogos #ConexãoFGM, que são bate-papos semanais, que possibilitam um aprofundamento ainda maior e com a participação do público que pode enviar perguntas ao vivo.

Embora o quadro pandêmico ainda persista, gradativamente, Salvador tem retomado suas atividades, tendo sido anunciada três fases de retomada. No início de agosto, com a redução da taxa de ocupação dos leitos de UTI da cidade, passamos à Fase 2 que possibilita a reabertura de museus, galerias e centros culturais, devendo estes seguir um protocolo específico de funcionamento. No entanto, muitas instituições ainda permanecem fechadas, tomando as providências necessárias para que estes possam voltar a funcionar com mínimo risco às suas equipes e públicos. A reabertura dos teatros e cinemas está prevista na Fase 3, ainda sem previsão de quando acontecerá, no entanto, a minuta protocolo de retomada deste segmento já foi apresentado por órgãos municipais aos gestores destes espaços. Ainda não sabemos muito como se dará o tal novo normal, muitas incertezas pairam sobre este assunto, inclusive, como será a resposta do público a essa reabertura dos espaços culturais. Suspeitamos, porém, que a maior sensibilidade e criatividade do gestor, aqui denominada de poética da gestão, será uma grande aliada dos gestores culturais para encontrar alternativas e soluções para a (re-)existência dos espaços culturais, bem como dos diversos segmentos que integram este setor tão importante ao desenvolvimento humano, social, econômico, de ampliação da esfera de presença do ser e de, como bem diz Hamilton Faria (2002, 2009), reencantamento do mundo.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Chicco. A poética da gestão em espaços culturais: a experiência do Cine Teatro Solar Boa Vista. in: KAUARK, G.; RATTES, P.; LEAL, N. (orgs.). Um lugar para espaços os espaços culturais: gestão, território, públicos e programação. EDUFBA: Salvador, 2019.

BARROS, Fernando José G. Reflexões sobre cultura e formação: estratégias e possibilidades. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 15, p. 41-52, dez. 2013/ maio 2014.

COELHO, Teixeira. A cultura e seu contrário: cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Editora Iluminuras: Itaú Cultural, 2008.

CUNHA, Maria Helena M. Gestão cultural: profissão em formação. Belo Horizonte: Gestión Cultural, 2005.

FARIA, H.; GARCIA, P. O reencantamento do mundo: arte e identidade cultural na construção de um mundo solidário. São Paulo: Pólis, 2002. (Publicações Pólis, 41).

FARIA, H. et al. Arte e cultura pelo reencantamento do mundo. São Paulo: Pólis, 2009. (Cadernos de Proposições para o Século XXI, 13).

GIL, Gilberto. in: FUTEMA, F.; GORGULHO, G.; SILVEIRA, R. A. Regulamentação da Lei Rouanet sai na próxima semana, diz Gil. Folha de São Paulo: São Paulo, 30 maio 2005. Disponível em:  <https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u69265.shtml>. Acesso em: 20 set. 2017.

NUSSBAUMER, Giselle. Prefácio – Refletir sobre espaços culturais: da experiência à crítica. in: KAUARK, G.; RATTES, P.; LEAL, N. (orgs.). Um lugar para espaços os espaços culturais: gestão, território, públicos e programação. EDUFBA: Salvador, 2019.

PINHEIRO, Diego. Encontro – Chicco Assis. Revista Barril: Salvador, abril de 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8BdW4PhTG54&t=455s>. Acesso em: 17 set. 2017.


CHICCO ASSIS transita, há 20 anos, por várias áreas do campo cultural. Multifacetado e inquieto, é artista, pesquisador, produtor e gestor cultural. Mestre em Cultura e Sociedade ( UFBA), especialista em Gestão e Políticas Culturais (Universidade de Girona/ Itaú Cultural) e graduado em Comunicação Social (UCSal). Desde 2006, atua como gestor de espaços culturais. Atualmente, assume a Gerência de Equipamentos Culturais da Fundação Gregório de Mattos. É um dos criadores do Cine Janela.