Revista Sobrado
Foto: Arquivo Nacional

5 livros para celebrar os 110 anos de Jorge Amado

“O que quis mostrar é que os verdadeiros pioneiros, aqueles que constroem a vida, são pessoas simples do povo, que vem de baixo”. Era assim que dizia o baiano Jorge Amado, um dos maiores escritores brasileiros, quando questionado sobre o conteúdo de suas obras.

Nascido em Itabuna, em 10 de agosto de 1912, se vivo, Jorge estaria completando hoje 110 anos. Publicou 49 livros, muitos dos quais recordistas em vendas na atualidade, que tiveram a Bahia – de sua costa litorânea do cacau à capital Salvador – como cenário. Criou personagens eternizados no imaginário popular, a maioria protagonistas das classes populares ou marginais. “O que fiz foi misturar uma linguagem muito popular com um certo vocabulário de época”, dizia.

Jorge Amado é o autor brasileiro mais adaptado ao cinema, teatro e televisão. Seus livros foram traduzidos em 80 países, em 49 idiomas. Em número de vendas, é superado apenas por Paulo Coelho, mas estilo ‘romance ficcional’ não há paralelo no Brasil. Ele foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1961, ocupando a cadeira 23. Esta mesma cadeira, em 2021, foi ocupada por Zélia Gattai – escritora, fotógrafa e memorialista – eterna companheira de Jorge Amado, na vida e na arte.

Hoje, data em que Jorge Amado completa 110 anos de nascimento, selecionamos cinco livros que marcaram a história da literatura brasileira.

Para saber mais sobre as obras de Jorge Amado e Zélia Gattai, visite a Fundação Casa de Jorge Amado. Para saber mais sobre a vida do casal mais romântico da Academia Brasileira de Letras, visite a Casa do Rio Vermelho. Ambos equipamentos culturais estão localizadas na cidade de Salvador.


CAPITÃES DA AREIA (1937)

Escrito em 1937, o livro Capitães da Areia marca uma mudança do Modernismo, movimento o qual Jorge Amado foi um dos precursores, passando de experimentação literária para um engajamento com questões sociais.

O livro retrata a vida de um grupo de menores abandonados, que crescem nas ruas da capital baiana, vivem em um trapiche e roubam para sobreviver. Eles chamados de “Capitães da Areia”.

A obra literária foi adaptada ao cinema 2011. O longa-metragem “Capitães da Areia” foi dirigido por Cecília Amado, neta do escritor.


TEREZA BATISTA CANSADA DE GUERRA (1972)

Publicado em 1972, Tereza Batista Cansada de Guerra encarna a revolta da mulher que recusa a condição de fragilidade, não aceita ser objeto e luta por autonomia. Cansada da guerra, ela não desiste de brigar. A protagonista se somou a outras figuras femininas criadas pelo autor, como Gabriela e Dona Flor.

O romance foi adaptado para a televisão por Vicente Sesso. A minissérie, exibida pela rede Globo em 1992, tinha direção de Paulo Afonso Grisolli.


MAR MORTO (1936)

Romance publicado em 1936, Mar Morto narra a vida dos marinheiros no cais de Salvador. Um verdadeiro painel lírico e trágico sobre a luta diária desses trabalhadores pela sobrevivência e, também, sobre seus amores, a exemplo de Guma e Lívia.

O livro inspirou Dorival Caymmi a compor um de seus maiores sucessos. O mote “Como é doce morrer no mar”, que se repete ao longo do romance, se transformaria em tema do compositor baiano.

Na década de 1940, a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, e a Rádio El Mundo, de Buenos Aires, transformaram o romance em radionovela. Em 2001, a rede Globo exibiu a novela “Porto dos Milagres”, inspirada no livro de Jorge Amado, disponível na plataforma Globoplay.


TOCAIA GRANDE (1984)

Publicado em 1984, o romance Tocaia Grande é a história da formação da cidade fictícia de Irisópolis, antes conhecida como Tocaia Grande. Despovoado no início do século XX, o lugar fica conhecido por ter sido cenário de emboscada e matança.

O mote do romance tem raiz na biografia do próprio Jorge Amado. Quando o escritor tinha apenas dez meses, seu pai, João Amado de Faria, sobreviveu a uma tocaia na região de Ferradas. O autor relembra o episódio nas memórias de infância “O menino grapiúna” (1982), livro que inspirou a escrita de Tocaia Grande.

O livro retoma a temática da conquista da terra na região cacaueira, depois de muitas décadas em que o autor não revisitava o assunto. O ciclo do cacau foi um dos principais temas do início da carreira de Jorge Amado, em livros como “Cacau” (1933), “Terras do Sem-fim” (1943) e “São Jorge dos Ilhéus” (1944).

Tocaia Grande foi adaptado para a TV e virou novela na extinta Rede Manchete em 1995.


O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ (1976)

Publicado em 1976, o livro infantil O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá teve o texto escrito em 1948, em Paris (França). Não era uma história para ser publicada em livro, mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de idade. Guardado entre as coisas do menino, o texto só foi reencontrado em 1976. João Jorge entregou a narrativa a Carybé, e o artista ilustrou as páginas datilografadas.

O livro foi publicado no mesmo ano, sem alterações do original escrito quase trinta anos antes.A história é inspirada na tradição popular das narrativas orais. Jorge Amado colheu o tema de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador.