Vinícius MarquesCARCARÁ
13 de fevereiro de 1965. Foi nessa data que a baiana Maria Bethânia subia pela primeira vez num palco carioca, especificamente no palco do Teatro de Arena. Lá, o público do espetáculo Opinião, antes protagonizado por Nara Leão (1942 – 1989), conheceu a voz da santamarense, apesar da mesma já ter participado de alguns espetáculos na Bahia, como o Boca de Ouro, em 1963. Para Bethânia, o marco zero de sua carreira aconteceu ali, naquele teatro, para aquelas pessoas. Foi o primeiro grande voo da Carcará.
SÓ PRA PASSAR FEVEREIRO EM SANTO AMARO…
Mesmo morando no Rio de Janeiro desde que estreou no Opinião, viajando o Brasil e o mundo interpretando suas canções, além de vender milhões de discos, Bethânia sempre separou um momento de férias do seu amado ofício. É em Fevereiro, no mesmo período em que celebra o início de sua carreira, que a baiana volta para casa. Nos últimos 56 anos, a presença de Bethânia é certeza absoluta na lavagem da Igreja de Nossa Senhora da Purificação, exercendo a sagrada função de devoção religiosa que ela carrega em todos os aspectos de sua vida. Todo dia 2 de fevereiro, enquanto toda a Bahia celebra Iemanjá, Bethânia carrega o andor de Nossa Senhora da Purificação.
FAMÍLIA, FESTA E DEVOÇÃO
A ida para Santo Amaro é também um momento de festa em família. Há 67 anos, a família Velloso realiza o Terno de Reis Filho do Sol, em Santo Amaro, organizado pelo irmão de Bethânia, Rodrigo Velloso, que neste ano completou 86 anos. O Terno de Reis Filho do Sol só não saiu em três ocasiões: após a morte de José Telles Velloso e de Dona Canô Velloso e, pais de Rodrigo e Bethânia; e em 2021, por conta da pandemia do coronavírus. “Não ter fevereiro em Santo Amaro, para mim, é negar a vida. Não consigo levar numa razoável, quanto mais numa boa. Tem sido dificílimo”, confessou a cantora em entrevista ao jornal O Globo neste mês.
Confira um curta documentário em homenagem a Rodrigo Velloso:
A MENINA DOS OLHOS DE OYÁ
No Carnaval de 2016, um ano após completar meio século de carreira, Bethânia ainda celebrava o marco. Homenageada pela Escola de Samba do coração, a Mangueira, foi também no mesmo dia 13 de fevereiro que o samba-enredo Maria Bethânia – A menina dos olhos de Oyá teve a vitória daquele ano celebrada. A história de Bethânia contada e cantada no Sambódromo da Sapucaí quebrou um jejum de 14 anos! Essa foi a 18ª vitória da escola, a primeira desde 2002.
FEVEREIROS
Aproveitando o momento de celebração da carreira e a homenagem pela Mangueira, o diretor Marcio Debellian pensou em unir esses temas no documentário Fevereiros. Nele, candomblé, catolicismo e Carnaval se entrelaçam e se transformam em um na figura de Maria Bethânia, a força que dá corpo ao filme. Além de um documentário sobre Maria Bethânia, Fevereiros é um registro histórico de como a Bahia e o Rio de Janeiro utilizam da música e da fé em um período do Brasil que apesar de próximo – o longa foi filmado entre 2015 e 2016 –, já não é mais o mesmo. Lançado nos cinemas em 2019, o longa pode ser assistido pelas plataformas Now, Itunes e GooglePlay, além do DVD que chegou às lojas este mês e falamos do lançamento aqui.
56 ANOS DE CARREIRA
No dia em que comemorou 56 anos de carreira, Maria Bethânia realizou a sua primeira live. Exibida pela Globoplay, aberta inclusive para não-assinantes, diretamente do palco da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, a cantora preparou um repertório que passeou por sua carreira – de canções do lado B aos maiores sucessos e até mesmo canções inéditas de seu próximo álbum a ser lançado, Noturno. Bethânia mesclou canções com declamações de textos e versos de Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andresen, já habituais em suas performances ao vivo. Foi uma grande celebração de sua carreira e que deveria ter sido vista ao vivo, presencialmente. Fica o desejo e a força de uma das falas dela logo no início da apresentação: “Eu quero vacina, respeito, verdade e misericórdia”.
A live ainda está disponível no site da Globoplay.
