Revista Sobrado
Cine Glauber Rocha | Foto: Divulgação

Em defesa da permanência e existência do Cine Glauber Rocha

Foi com surpresa e decepção que recebemos a nota divulgada pelo banco Itaú na manhã de hoje, 16 de setembro de 2021, na qual anuncia o fechamento do Cine Glauber Rocha como parte da reorganização da estratégia de difusão de audiovisual no país por parte do Espaço Itaú de Cinema.

Em nota, o Itaú diz que “a redução da operação física não representará diminuição de alcance das ações do Espaço Itaú de Cinema. Ao contrário, a rede está intensificando a atividade de difusão digital por meio de parceria com a plataforma de streaming Itaú Cultural Play, que oferece ampla programação gratuita de filmes e audiovisuais brasileiros na web. Hoje a plataforma contempla 175 títulos dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal”.

No entanto, nós sabemos que cada espaço cultural que se fecha é um passo para trás na ampliação do acesso à cultura e à arte. O Itaú é o maior banco privado do país. Somente no segundo trimestre deste ano teve lucro líquido de R$ 7,56 bilhões, um avanço de 120,8% em relação ao trimestre anterior. O ano passado, em meio à pandemia, obteve um lucro líquido de R$ 18,91 bilhões. Ao invés de avançar com investimentos na área cultural, o banco opta por fechar os poucos espaços culturais que mantém em algumas capitais brasileiras. Além de Salvador, serão fechadas as unidades do Espaço Itaú de Cinema de Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR).

O Espaço Glauber não se resume às salas de cinema, é um complexo cultural, que além das quatro salas de exibição, é formado por um restaurante, livraria e lanchonete. É um espaço que virou um patrimônio cultural de Salvador, que ajudou a revitalizar o Centro Histórico da capital baiana.

A sociedade soteropolitana não pode aceitar que esse espaço cultural seja fechado. O prédio funciona como cinema há mais de 100 anos. É um agente vivo e pulsante da cultura e das artes no coração da cidade. Por isso, defendemos que a Prefeitura de Salvador busque soluções para a manutenção do Espaço Glauber Rocha, para que ele siga aberto ao público, seguindo o exemplo do que aconteceu em outras cidades brasileiras.

Em Belém, capital do Pará, está localizado o cinema mais antigo do Brasil em funcionamento, o Cine Olympia. Ele foi inaugurado em 1912. O cinema era administrado pelo Grupo Severiano Ribeiro, que em 2006 anunciou seu fechamento. A sociedade belenense realizou várias ações em defesa do espaço cultural, que passou a ser administrado pela Fundação Cultural de Belém, autarquia ligada à Prefeitura Municipal.

O mesmo aconteceu com o Cine Roxy, no estado do Rio de Janeiro. No último mês de junho, a prefeitura da capital fluminense decidiu preservar o ramo de atividade de um dos cinemas mais antigos do Brasil, localizado no bairro de Copacabana, incluindo-o no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis da cidade. Assim, por lei, o cinema passa a integrar a lista de bens imateriais do Rio de Janeiro. Na prática, isso significa que qualquer modificação no negócio, inclusive no ramo de atividade ao qual ele pertence, precisa ser autorizada pela prefeitura.

Outro exemplo positivo é o Cine Passeio, inaugurado em março de 2019, que busca trazer de volta à cidade de Curitiba, capital do Paraná, a proposta dos cinemas de rua como uma alternativa à grande quantidade de salas voltadas à exibição de conteúdos cinematográficos em shopping centers. O espaço cultural foi projetado para ser também um espaço de formação audiovisual e de inovação na área da economia criativa e é mantido pela Fundação Cultural de Curitiba, ligada à Prefeitura Municipal.

Partindo de exemplos concretos, é possível que a Prefeitura Municipal de Salvador adote medidas para manter o Espaço Glauber Rocha funcionando como um importante equipamento cultural de nossa cidade. Esse é o apelo que a Revista Sobrado, em defesa da arte e da cultura, faz ao prefeito Bruno Reis (DEM). Estamos em defesa da manutenção do Espaço Glauber Rocha. Um espaço que recebe o carinho dos soteropolitanos e o abraço diário de nosso poeta maior, Castro Alves.

Revista Sobrado
Salvador, Bahia
16 de setembro de 2021