Revista Sobrado
Arte: Yago Vieira / @yagoquefez

Sorria: você está sendo tocado

É logo cedo que a nossa capacidade auditiva começa a ser estimulada. Desde o útero, já conseguimos escutar as primeiras vibrações e estímulos sonoros. Mas eis que um dia a bolsa estoura, o estampido ecoa nos quatro cantos do mundo e a expressão do rosto nos identifica: é chegado o momento em que nossa gente passa a ter uma identidade. Ao longo da vida, somos apresentados aos mais diversos tipos de sons – ora guiados pela faixa etária, pelo núcleo familiar, igreja, escola ou quaisquer outros tipos de instituições, convívios ou ambientes sociais que vão moldando nossa existência. Viver é se relacionar, antes dos outros, com os nossos próprios sentidos, sentimentos e sensações. Como, então, viveríamos sem música?

O mercado publicitário – que nos rodeia desde lá, na barriga da mãe – também se faz essa pergunta e, por consequência, sabe o potencial auditivo presente no campo das emoções. E compreendeu que, para cada produto, serviço ou empresa, existem identificações artísticas específicas. “Elas são chamadas de Music Branding, área que se ocupa de definir o raio de abrangência dos estilos musicais afinados com a personalidade da marca”, explica Zanna Lopes, autora do livro Sound Branding, o som das marcas (Matrix Editora, 2015). “É preciso aproximar as pessoas da marca por meio de boas experiências auditivas”, complementa.

Boas experiências é justamente o que buscamos ao entrar em estabelecimentos de compra, ou adquirir serviços dos mais diversos segmentos. Em artigo publicado para a revista do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, os pesquisadores Clarissa Martins e Rodrigo Souza traçaram um paralelo sensorial: se, por um lado, o aroma conecta-se à memória, o aspecto sonoro associa-se diretamente ao humor. “Dessa forma, o som pode ser considerado um dos fatores-chave no projeto de ambientes de compra, tendo uma relação direta com o ânimo e as emoções daqueles que vivenciam o espaço”, explicam.

Ouvimos música nas mais distintas ocasiões e lugares: em casa, no banheiro, na cozinha; nos momentos de lazer ou de exercício; no trajeto para o trabalho, ou até mesmo trabalhando. “Por esta razão, deve haver uma preocupação por parte das empresas em selecionar tipos de músicas condizentes com o gosto de seu público-alvo, para que haja uma identificação direta. É preciso construir uma playlist agradável”, argumenta a publicitária Greice Caroline Farias, em pesquisa para a Universidade Federal de Santa Maria. “Pode-se dizer que este é o objetivo do music branding nos pontos de venda, que além de agradar aos ouvidos e se agregar ao posicionamento da marca, altera o comportamento das pessoas inconscientemente”.

Escutar playlists nos dias de hoje é, ao mesmo tempo, falar sobre um mercado que cresce ano após ano: as plataformas de música e os serviços de streaming. Spotify, Deezer, YouTube Music, Amazon Music, Apple Music, Tidal: exemplos não faltam, e muito menos cifras. A edição mais recente do Global Music Report – relatório anual produzido pela International Federation of the Phonographic Industry (IFPI) – aponta que as receitas gerais de streaming cresceram 22,9% em 2019, movimentando cerca de US$ 11,4 bilhões. Foi a primeira vez que as receitas de streaming representaram, na indústria fonográfica, mais da metade (56,1%) do faturamento global de músicas gravadas. “Essa nova geração de consumidores de música que surgiu nos últimos anos, presa pela portabilidade, agilidade e flexibilidade faz com que estes programas expandam as suas possibilidades”, observa Victória Renner, mestre em Marketing pela Universidade do Porto. “Além de tornar-se uma opção de consumo, o streaming possibilitou a inserção de novas estratégias no mercado de publicidade e marketing”.

Rádio Sobrado
E para dar as boas-vindas a esse ano de 2021, a Sobrado preparou uma novidade aos leitores (e, por que não dizer, aos ouvintes). Chegou a Rádio Sobrado, um espaço com a cara, o jeito e o som que representam a gente: nós, que prezamos por um jornalismo cultural de qualidade, independente e analítico; e vocês, esse público leitor, crítico e plural. Nossa playlist será atualizada a cada mês, no Spotify e no Deezer, para que fiquemos ainda mais conectados e colados diariamente. Assim, como alguém que você gostaria que estivesse sempre com você – na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapê, e agora também no App. Play!


JOÃO CAMILO é jornalista e Técnico-Administrativo no Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT). Nascido em Aracaju (SE), já morou na Bahia e hoje reside em Brasília. Apaixonado desde sempre por música e pelo Palmeiras, e desde 2018 também pelo sobrinho Cauã.