Revista Sobrado
Foto: Reprodução / Courtesy of Warner Bros. Pictures and Legendary Pictures

O definitivo ‘Duna’ de Denis Villeneuve

“Os sonhos são mensagens das profundezas”. Com esta frase, o prolífico diretor franco-canadense Denis Villeneuve inicia sua ambiciosa adaptação da não menos ambiciosa obra literária de Frank Herbert. Como a frase de abertura, o diretor usa imagens para traduzir a complexa história de Duna em mensagens visuais, uma obra-prima da literatura reconhecida como a melhor saga de ficção científica de todos os tempos.

Esta terceira tentativa de transferir a obra de Herbert para o plano audiovisual, após a adaptação inacabada de Alejandro Jodorowsky e a menosprezada produção de David Lynch, é apresentada com a perfeição estética que caracteriza seu diretor e a própria grandeza do romance.

A história diz respeito a Paul Atreides (Timothée Chalamet), um jovem talentoso nascido com uma intenção surpreendentemente fora de sua compreensão, que tem que fazer seu caminho até o planeta mais perigoso do universo – Arrakis, mais conhecido como Duna -, para salvaguardar o destino iminente de sua família e de seus indivíduos, à medida que forças maliciosas explodem na batalha pelo limitado suprimento desse planeta desértico que possui o recurso mais valioso do universo, a Especiaria.

Timothée Chalamet tem um bom desempenho no papel de Paul Atreides, o jovem habilidoso que deve ter muito cuidado consigo mesmo ao se preparar para a batalha, enquanto Zendaya mantém o mistério como Chani, a mulher Fremen que aparece nos sonhos de Paul.

Entre o resto do elenco, há excelentes atuações de Oscar Isaac, Josh Brolin e Stellan Skarsgård em seus respectivos papéis como Duque Leto Atreides, Gurney Halleck e Barão Vladimir Harkonnen. O destaque fica para Rebecca Ferguson como Lady Jessica, a mãe Bene Gesserit de Paul.

Foto: Reprodução / Courtesy of Warner Bros. Pictures and Legendary Pictures

A direção de Villeneuve é soberba, permitindo que as expressões faciais sejam vistas com um forte efeito, ao mesmo tempo em que também mantém uma atmosfera tensa, apoiada no roteiro escrito em uma parceria incrível entre o próprio diretor, Jon Spaihts e Eric Roth.

A câmera, a música, o som, a edição e os efeitos visuais são os que mais se destacam nos aspectos técnicos, pois tudo é incrível de se ver em todos os momentos; a câmera faz um uso muito bom dos locais e também captura bem os momentos tensos e dramáticos, que merecidamente vão deixar todos na ponta dos pés; a trilha sonora é uma surpresa à parte, com Hans Zimmer mais uma vez provando ser um grande compositor; o som é fantástico, pois às vezes você precisa ouvir com atenção; o filme é editado com uma precisão incrível; os efeitos visuais deslumbram sempre que aparecem na tela.

Adaptação
Mas um dos maiores pontos fortes de Duna é também sua maior fraqueza. Esta é a “Parte Um” – e embora tenha bastante tempo para a construção do mundo e para apenas nos deleitarmos com a grande escala de tudo isso, o filme também deixa a sensação de que terminou exatamente como deveria. Como afirma a frase final do filme, “Este é apenas o começo…”

Para aqueles que nunca leram a obra de Frank Herbert, algumas das maquinações da trama podem deixar a desejar. Villeneuve poderia ter apresentado algumas coisas de forma um pouco mais clara – por exemplo, o envolvimento do imperador nos eventos e a motivação para tal. Villeneuve também deixou de fora a crescente popularidade e influência do duque Leto entre o povo de sua terra natal e os Arrakinos.

O filme também encobriu as razões para a prevalência de armas com lâminas e a falta de armas de fogo na guerra, ou a falta de computadores, tudo isso para além de toda a conversa ecológica que prevalece no planeta de Duna – todas essas são coisas que Herbert detalha exaustivamente em sua obra. Estes são apenas pequenos problemas encontrados nessa adaptação, mas que não tiram o brilho final.

De qualquer forma, Frank Herbert pode finalmente descansar em paz, seguro de que sua seminal e metafísica fonte material foi imortalizada nas mãos de um gênio como Villeneuve. Agora fica a torcida para uma segunda parte. Warner, não nos decepcione.