Revista Sobrado

Celsinho Cotrim: “Salvador necessita, urgentemente, de estímulo à leitura”

No plano de governo protocolado junto ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), o candidato a prefeito de Salvador pelo PROS, Celsinho Cotrim, pontua que a área da cultura continuará trabalhando junta com a área do turismo, pois o candidato que “encara o turismo sob a perspectiva da diversidade e identidade cultural” e ressalta “que o município é o principal ator no apoio à valorização da cultura local, além de mola propulsora para o desenvolvimento econômico”.

Celsinho Cotrim enumera 13 propostas nesta seção de seu programa de governo, sendo as últimas quatro destinadas especificamente à cultura: rediscussão do carnaval, com foco voltado ao carnaval de rua com blocos sem cordas, charangas, fanfarras e os camarotes existirão só em locais privados; priorização da destinação de verbas públicas para os blocos afros; potencialização do São João nos bairros; e fortalecimento da festa de Réveillon.

Nossas perguntas e questionamentos foram realizadas sobre as propostas presentes no plano de governo e sobre temas que não ganharam destaque, mas que segundo o candidato “estão implícitas dentro das propostas gerais”.

Sobrado: Outros candidatos conectaram a cultura com a educação. No seu plano de governo, a cultura está conectada com o turismo. Por que a opção de trabalhar com essa perspectiva cultura-turismo?
Celsinho Cotrim: Optamos por manter as áreas do Turismo e da Cultura trabalhando juntas, porque preferimos encarar o turismo sob a perspectiva da diversidade e identidade cultural. Analisando o município, já com a nossa experiência na Bahiatursa, percebemos que ele é o principal ator no apoio à valorização da cultura local, além de mola propulsora para o desenvolvimento econômico. Assim, vale a pena essa união, sem que deixemos de lado a percepção de educação também envolver cultura.

S: Realizamos a maior festa de rua do planeta. No seu plano de governo você fala em “rediscutir o carnaval com foco voltado ao carnaval de rua com blocos sem cordas, charangas, fanfarras e os camarotes existirão só em locais privados”. Como isso se dará? A sociedade será chamada a debater esse tema?
CC: Sim, a sociedade terá sempre como se fazer escutar pela nossa gestão, a começar pelo Conselho Municipal do Carnaval. Os camarotes têm e terão todo nosso apoio, desde que sejam instalados em locais privados, a fim de deixarmos cada vez mais livres os espaços públicos para o carnaval pipoca, o carnaval do povo. Resgatar as fantasias e o carnaval com bandas de sopro é uma necessidade iminente, haja vista a grande aceitação desse tipo de festa no período do carnaval no Convento do Carmo.

S: A prefeitura tinha anunciado a realização da Bienal do Livro, que não ocorreu devido à pandemia. Em sua gestão esse evento será realizado, retomado em nossa cidade?
CC: Sim, sim. É um evento tão importante, tão belo… Principalmente depois do fechamento de todas as livrarias Saraiva, na cidade, e da situação de quase falência da Livraria Cultura. Salvador necessita, urgentemente, de estímulo à leitura. Um povo que lê tem uma cidade desenvolvida em civilidade e nos negócios. A Bahia e Salvador sempre deu ao Brasil e ao mundo grandes escritores como Jorge Amado, João Ulbaldo Ribeiro e outros intelectuais… Precisamos fomentar mais Jorges Amados… E a Bienal, também, tem essa função.

S: Quais políticas específicas para a Fundação Gregório de Matos? Como será a atuação deste importante fomentador de políticas culturais em nossa cidade? Quem você indicará para direção da Fundação?
CC: O papel da Fundação Gregório de Mattos é importantíssimo de fato. E é por isso que, mais do que prestar atenção às suas demandas do dia a dia, precisamos fortalecer essa instituição. Além do mais, como a nossa política é anti-politicagem, afirmamos que não escolheremos seu diretor por indicação política, mas, por critérios técnicos e, de preferência, com o total aval dos que serão os subordinados a esse diretor. Precisa ser alguém da área, um entendido no assunto. Já pensei em alguns nomes.

S: Salvador realiza um dos maiores festivais da primavera do país. Esse evento será mantido? Ampliado?
CC: Sim, será mantido e ampliado. Todo evento que valorize a nossa cidade e possibilite uma lazer saudável aos soteropolitanos será abraçado por nós.

Nossa política é inclusiva. Respeitaremos e fomentaremos as diversas formas de manifestações e eventos populares e o Festival da Primavera é um deles que merece nossa total atenção, do mesmo modo que o Carnaval será mais valorizado, também valorizaremos mais esses eventos diferenciados. Por exemplo, estivemos no Palco do Rock, este ano, deixando claro o nosso compromisso com as culturas alternativas da cidade. E, se abraçamos o underground dos metaleiros e roqueiros, também abraçaremos a celebração da primavera e todos os festivais que dialoguem com a cidade.

S: A Fundação Gregório de Matos desenvolve o projeto Boca de Brasa que busca desenvolver políticas culturais nos bairros periféricos da cidade, uma espécie de descentralização de políticas culturais. Qual a sua opinião sobre esse projeto. Será mantido? Novos bairros serão contemplados? Quais?
CC: O Boca de Brasa é um projeto fascinante. Descentralizar as políticas culturais faz a cidade conhecer e abraçar a cultura de modo geral. Contemplaremos todos os 170 bairros de nossa Salvador. Portanto, ampliares dos atuais 20 para a sua totalidade, pois, a cultura é pra todos e todas.

S: Salvador se destaca pela sua forte atuação no teatro. O Bando de Teatro Olodum é um dos mais renomados do país, já revelou grandes atores com destaque nacionais como Lazaro Ramos, Erico Brás, Tânia Toko e Wagner Moura. Quais são suas políticas voltadas a este setor cultural?
CC: Iniciativas como o Bando de Teatro Olodum terão total apoio de nossa gestão. Nossas propostas culturais estão sempre imbricadas com as de turismo, por conta da escolha que fizemos de secretaria. Por exemplo, quando dizemos, em nosso Programa de Governo, que “Potencializaremos o São João nos bairros”, a questão do artista não está expressa diretamente, mas, indiretamente, o artista se beneficiará disso. Quanto ao teatro especificamente, pretendemos estimular ao menos um grupo de teatro para cada um dos 170 bairros da cidade.

S: Em 2016 a Unesco reconheceu Salvador como a “Cidade da Música”. Quais serão suas propostas para este setor cultural?
CC: Precisamos potencializar as festas de rua e o próprio Carnaval dos blocos afro, pois, além do estímulo à cultura, entretenimento e lazer, estamos buscando formas de reconhecer e valorizar quem fez e faz a nossa cultura.

Além disso, tenho dito muito nessa campanha, e também na eleição passada para o Senado, com direito a publicações nas minhas redes sociais, de que precisamos criar um benefício social para os artistas, assim como já definimos que cada centavo gasto com um artista que está na crista da onda, hoje, gastaremos um centavo, também, por quem não está mais na crista da onda, haja vista que, se esses artistas não tocarem por cachê ou bilheteria passarão necessidade.

O Museu da Música Brasileira, abrigado pelo Casarão dos Azulejos Azuis, no Comércio, é de suma importância para a nossa cidade e, é claro, para o setor cultural. Vale pontuar!

Além disso, temos essas propostas para a área cultural, de modo geral:
– Calendário de atividades com divulgação da Cidade do Salvador em eventos nacionais e internacionais, em parceria com expoentes das artes e da cultura locais, a exemplo do que fizemos na Bahiatursa quando levamos Alberto Pita, do bloco Cortejo Afro, para o maior evento turístico da América Latina, que é a ABAV, a fim de divulgar a nossa cultura soteropolitana;
– Precisamos descentralizar a cultura, através da oferta de equipamentos culturais para beneficiamento de comunidades;
-Tratar a cultura de forma transversal com as áreas de educação, social, entretenimento e lazer;
– Implantação de equipamento público de grande porte para guarda e exposição de acervo cultural e histórico municipal destinado à visitação pública local e turística;
– Fomento e criação do catálogo cultural e sua inserção no currículo da educação formal;
– Realização de censo cultural, em articulação com órgãos oficiais competentes, com vistas ao mapeamento e tombamento de locais, construções e sítios de importância histórica e cultural do município, visando a catalogação e divulgação física e digital de espaços públicos históricos, templos religiosos, identidade cultural e comunidades tradicionais como forma de universalização do acesso à cultura local;
– Articulação com entidades de ensino superior para oferta de cursos especializados na cultura local;
– Implantação de programas de atração do turismo cultural;
– Inventário e requalificação de espaços urbanos e equipamentos turísticos, ativos e inativos, visando ao desenvolvimento planejado, ordenado e sustentável do turismo no município.

S: Gastronomia também é cultura. Salvador é reconhecida pelos seus sabores, sua culinária própria. Temos as baianas de acarajés e seus tabuleiros espalhados pelos quatro cantos da cidade. Como se dará a sua relação com a Associação das Baianas de Acarajé? Quais políticas públicas serão desenvolvidas em seu governo para alavancar o setor gastronômico em nossa cidade?
CC: Somos devotos do acarajé, por assim dizer. E eu, fico muito à vontade para responder a essa pergunta, pois, sempre que estou em cargos públicos, tenho trabalhos realizados com a ABAM, inclusive, sendo homenageado por essa combativa entidade, dirigida por nossa querida amiga Rita Santos, na Praça da Cruz Caída, pelos serviços  relevantes prestados à categoria.

Pensamos sempre em deixar que essa tradição culinária seja lembrada para o Brasil e para o mundo. Por isso que eu e minha equipe da Bahiatursa, à época, em todos os eventos nacionais e internacionais, levávamos baianas a caráter e, na maioria das vezes, levávamos o acarajé também.

E sempre buscamos lembrar o acarajé com sua base religiosa e cultural tão nobre e significante ao povo preto desta cidade. E não à toa, também, que do ponto de vista político, convidamos Dadá para o nosso partido, porque sempre tivemos essa boa relação com as baianas. Elas representam, muitas vezes, a cara de nossa cidade, a beleza de nosso povo. Se repararem as fotos da Lavagem do Bonfim deste ano e do nosso Giro 90 pelos 170 bairros de Salvador, notarão a presença de baianas nos acompanhando, inclusive. Portanto, nossa relação com a Associação das Baianas de Acarajé e Mingau é e continuará a melhor possível. Quanto às propostas envolvendo nossa gastronomia, elas estão implícitas em tudo o que pensamos em relação à cultura combinada com o turismo. Afinal, qual turista que não quer ver uma roda de capoeira enquanto come acarajé? Está tudo imbricado, conectado.