Revista Sobrado
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Hilton Coelho: “Nossa proposta é de ampliar em 5 vezes os recursos investidos na área da Cultura através da FGM”

Historiador, sindicalista e político brasileiro, Hilton Barros Coelho sempre esteve ao lado esquerdo da força. Nascido e criado em Salvador, tem 49 anos e fez parte do Partido dos Trabalhadores (PT) de 1989 a 2005, e depois migrou para o PSOL, onde permanece e defende a bandeira amarela e vermelha até hoje.

Foi eleito vereador de Salvador (2013-2017) pela Coligação Chega de Vender Nossa Cidade (PSOL – PCB), sendo reeleito posteriormente (2016-2020). Renunciou o mandato de vereador para assumir o cargo de deputado estadual para o período de 2019-2023.

Na corrida para se tornar prefeito de Salvador nas Eleições 2020, Hilton Coelho montou, em linhas gerais, um plano de governo com uma área destinada à Cultura. Por isso, a Sobrado entrou em contato com o candidato que, por e-mail, contou como irá guiar a pasta se eleito. Dentre as pautas estão Carnaval, ampliação da Fundação Gregório de Mattos (FGM), cinema e acessibilidade de pessoas com deficiência em eventos culturais.

Sobrado: Para o senhor, o que é cultura e como entende o papel do Estado no fomento à cultura?
Hilton Coelho: A Cultura é a forma mais genuína e original de expressão da riqueza e potencialidades do nosso povo. Dos fazeres e saberes acumulados ao longo de todos estes anos convivendo juntos neste território. O papel do Estado no fomento à Cultura deve ser de indutor no desenvolvimento das manifestações populares. Reconhecendo o caráter social, formador, educativo, de lazer e entretenimento e de vetor econômico das diversas atividades culturais e artísticas.

S: Como o senhor. candidato aplicaria o conceito do Sistema Municipal de Cultura aqui em Salvador?
H.C: O SMC faz parte de uma política nacional que prevê, em linhas gerais, três núcleos principais de articulação do poder público com a sociedade civil, que são o Plano Municipal de Cultura, o Fundo Municipal de Cultura e o Conselho Municipal de Política Cultural. O Plano precisa ser construído de forma transparente e transversal com a comunidade cultural e com outras diversas áreas da gestão, como a Educação, a Assistência Social, o Turismo e o Planejamento. O Fundo é o mecanismo de fomento direto do poder público em ações fins, e por isso deve levar em conta um equilíbrio entre as diversas nuances do setor, para que, de forma o mais abrangente possível, consiga induzir as práticas e manifestações populares que não encontram o suporte necessário do setor privado. Em paralelo, a gestão deve articular uma aproximação da iniciativa privada no financiamento ao setor, através da política de abatimento e isenção fiscal. O Conselho é o grande fórum de encontro entre a sociedade civil e o poder público e seu fortalecimento e autonomia são fundamentais para que as diversas vozes das linguagens artísticas, manifestações culturais e regiões da cidade possam dar o tom da política pública.

S: Temos a Fundação Gregório de Mattos (FGM) que é uma Fundação ativa na vida cultural de Salvador. Quais são as propostas para o trabalho com a Fundação?
H.C: A Fundação Gregório de Mattos é fundamental para o desenvolvimento da política cultural de Salvador, por ter acumulado, ao longo dos anos, diversas experiências das tentativas de implantação do SMC de Salvador, ainda hoje incompleto. Contudo, sua estrutura está muito aquém do que se espera para uma instituição com tamanha importância. Seu quadro de servidores e funcionários é muito restrito e seu orçamento não dá conta da riqueza e importância da cultura em Salvador. Nossa proposta é de ampliar em 5 vezes os recursos investidos na área da Cultura através da FGM e da implantação definitiva do SMC.

S: E o Boca de Brasa, o senhor tem a pretensão de ampliá-lo?
H.C: O Boca de Brasa é uma iniciativa que tem sido bem recebida pela comunidade cultural e também pela população das localidades onde foi implantado. No entanto, como de forma geral, o baixo orçamento destinado pela gestão atual para a área da Cultura limita extremamente o alcance da iniciativa. Iremos incrementar este projeto e desenvolver muitos outros com o objetivo de descentralizar os espaços e recursos.

S: Os patrocínios das cervejarias em festas populares são de cerca de 50%, assim o gasto público se reduz pela metade. Em sua proposta de governo, o senhor diz que vai reorganizar o Carnaval, para deixar de ser um evento destinado a grandes negócios e cervejarias. Como isso se dará?
H.C: O nosso foco será o investimento nas manifestações da cultura popular, trazendo para o centro da festa toda a riqueza artística e cultural da cidade. O Carnaval de Salvador tem perdido força e interesse turístico nos últimos anos e entendemos que isto se deve a um distanciamento das raízes que dão força e originalidade a esta imensa festa popular. Os espaços públicos são vendidos a preço de cerveja barata para que poucos empresários possam lucrar com espaços fechados que não correspondem ao objetivo desta festa do povo. Faremos uma mudança radical deste perfil comercial da festa e entendemos que essa mudança atrairá novas perspectivas de negócios.

S: O cinema soteropolitano movimenta bastante a cena cultural na/da capital, mas a escassez com a falta de incentivo ainda é evidente. O senhor pretende voltar o olhar para essa expressão artística? Se sim, como?
H.C: Assim como todas as áreas do setor artístico e cultural de Salvador, o cinema carece de maior investimento, tanto na articulação da sua cadeia produtiva, quanto no fomento à formação, produção e circulação das obras. Além de ampliar o investimento direto, também criaremos um ambiente mais favorável para o patrocínio da iniciativa privada ao setor.

S: Acredita-se que existe uma grande demanda por shows de artistas internacionais. O senhor tem estudos e planos para trazê-los para Salvador?
H.C: Este será um setor em que a criação de um ambiente mais favorável para o financiamento da iniciativa privada, tanto de empresas como de pessoas físicas, será o foco da nossa política, entendendo que este é um mercado já estabelecido e o potencial da cidade em atrair estes eventos é uma realidade.

S: Apesar de existirem pouco mais de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil – segundo dados da Organização Mundial da Saúde -, as políticas públicas de acessibilidade cultural andam a passos curtos. Temos artistas e público com deficiência. O senhor pretende incluir direitos às pessoas com deficiência, voltados ao contexto cultural, na sua gestão? Se sim, de que forma?
H.C: As políticas de acessibilidade estão presentes em todo o programa de governo da Frente Capital da Resistência, com diversos mecanismos de estímulo e fomento direto, que serão eixos centrais para discussão com a população de Salvador no 1º Congresso do Povo, que realizaremos já no primeiro ano da gestão.