Revista Sobrado
Foto: Sergio Isensee / Divulgação

O palco de Alexandre Leão

Aos 17 anos de idade ele teve a primeira canção gravada por Maria Bethânia. Pense um menino receber essa proposta de uma das maiores cantoras brasileiras… É de cair para trás! Assim começou a carreira musical de Alexandre Menezes Leão, mais conhecido apenas como Alexandre Leão, 49 anos de idade, soteropolitano nascido no dia 1º de setembro de 1971 e que começou a tocar violão aos 15 anos de idade, com os vizinhos do Tororó.

Filho de um professor de português por formação, Alexandre Leão disse ter tido contato com a música desde cedo. “Dentro de casa com meu pai tocando instrumentos, já era uma motivação. Meu avô veio da Paraíba, tocava clarinete no exército, depois passou a ser maestro da orquestra militar”, conta.

Alexandre Leão é formado em Comunicação Social, com bacharelado em Publicidade. Formou-se na primeira turma da Universidade Católica do Salvador (UCSal). “Fiz vestibular motivado por meu pai, que dizia que eu precisava de uma formação. Passei em Direito na Ufba e em Publicidade na UCSal. Decidi cursar Publicidade e trabalhar com áudio. Uma indicação maravilhosa de meu pai. Hoje tenho uma produtora e parte da minha renda vem de lá”, revela.

O cantor já morou em São Paulo e lá trabalhou na agência Play It Again. Foi premiado nacionalmente em diversas campanhas que coordenou. No retorno para Salvador, por volta do ano de 2004, surgiu os convites para tocar na Varanda do Sesi. A princípio Leão não aceitou. Como um bom virginiano, a desculpa foi que fazia muito barulho no local e isso poderia atrapalhar a qualidade do show.

Na inauguração do Teatro Sesi Rio Vermelho, Alexandre Leão fez um show com Marilza Santanal. Aí a diretora do espaço cultural, Maria Angélica, junto com o curador Lula Gazineu, lançou o convite para que ele cantasse na Varanda. O amigo Roberval Santos insistiu para que Leão aceitasse. Foi então, que no ano de 2005, aconteceu o primeiro show de Alexandre Leão na Varanda do Sesi. Este ano, o projeto comemora 16 anos e tornou-se parte da vida noturna de Salvador. Um evento ideal para quem gosta de um show com qualidade.

Palcos & Amigos
Desde o dia 8 de janeiro, Alexandre Leão voltou aos palcos da Varanda do Sesi, todas as sextas-feiras, com o ingresso a R$ 40. “Estamos cumprindo os protocolos de segurança à saúde. A Casa está funcionando com metade da capacidade permitida, mesas distantes e como o ambiente é aberto, o ar não fica concentrado em um único lugar. A aglomeração não acontece nem no público e nem no palco, que só tem eu e mais um músico”, fala. “O atraso das vacinas para um país do tamanho que é o Brasil, só vai postergar o fim da pandemia para nós brasileiros. Assim, vamos cumprindo os protocolos de saúde”, completa.

As apresentações na Varanda do Sesi são um sucesso. Em 2012, Alexandre Leão gravou um DVD com muitos convidados e amigos. A noite da sexta-feira é marcada por artistas que frequentam e, às vezes, dão uma palhinha. Personalidades como Armandinho Macêdo, Lazzo Matumbi, Rita Batista, Bel Borba, Angela Davis frequentam o local. “Depois tem sempre aquela esticada no Boteco do França”, diz achando a graça, ao se referir ao bar vizinho da Varanda do Sesi.

As apresentações na Varanda não fazem parte apenas da história da carreira musical de Alexandre Leão, mas amorosa também, pois ele conheceu a esposa lá, em um dos shows.

No início da carreira de Alexandre Leão não se pode pular a parte em que ele e Belô Velloso, sua vizinha na época, cantavam juntos na noite. “Eu conheci Alex na minha rua. Quando as nossas famílias moravam no Tororó. A aproximação se deu pelo interesse pela música. Lembro de nossas conversas. Ele sempre tocando um violão rebuscado, cheio de rigor e sabendo muito sobre Toquinho e Vinícius”, conta Belô à Sobrado.

“Nós trabalhamos juntos por um período longo pra idade que tínhamos na época. Entre 15 e 17 anos por aí, fizemos música ao vivo em bares. Começando por um contato da minha mãe. Um convite de um amigo dela. Daí pra conhecer a minha família toda foi um passo. Ele é amigo de todos, muito querido por todos”, completa a sobrinha de Caetano e Maria Bethânia.

Sobre o fato da tia de Belô ter gravado uma canção dele aos 17 anos de idade, Alexandre Leão avalia que teve “a juventude nesse universo de arte frequentando a casa de Mabel Velloso e cantando com Belô. Foi então que eu mostrei a canção minha e de Olival Mattos, chamada Paiol de Ouro, à Bethânia na casa de Mabel e ela pediu o meu número de telefone”. Leão lembra desse momento com entusiasmo.

E, continua: “ela falou, ‘amanhã vou mandar buscar a música na sua casa’. Não existia celular na época, no outro dia pela manhã fui à praia, quando voltei ia sentar com minha mãe e meu pai pra contar a novidade. Antes perguntei: ‘alguém ligou pra mim, mãe?’. Minha mãe disse que só um trote de uma moça que ligou três vezes lhe procurando dizendo que era Maria Bethânia”.

Obviamente, Leão perguntou à mãe o que ela disse para Bethânia e a resposta foi: “mandei procurar o que fazer. Onde já se viu. Ela imitava a voz direitinho de Bethânia”. Depois disso, ele contou o que tinha acontecido na noite passada e ficou aguardando o contato com Bethânia.

O contato veio no dia seguinte. Saiu nos jornais impressos da cidade a nota A cantora Maria Bethânia procura o compositor Alexandre Leão. Ele foi ao escritório da gravadora, se apresentou e os funcionários se assustaram como o fato de ele ser um adolescente. “A Poligram me deu cheque. Tive que ir com minha mãe ao banco abrir uma conta, pois um funcionário da gravadora disse que o pagamento dos direitos autorais viria a cada três meses”, lembra.

Com toda poesia e afeto, Belô Velloso comenta. “O fato de Bethânia gravar um compositor é algo definitivo em sua carreira. No caso de Alexandre, ela ainda gravou junto comigo, no meu primeiro CD, outra canção dele. Dessa vez em parceria com minha mãe. Mabel Velloso e a meu convite”, pontua Belô.

A cantora lembra das apresentações do Leão na Varanda do Sesi. “Alexandre faz da Varanda do Sesi uma apropriação artística linda. Cheia de alegria, competência e vibração. Seu público fiel dá gosto de ver. Ele segue fazendo seu som com preciosismo e simplicidade ao mesmo tempo, em total equilíbrio. As sextas-feiras são especiais na Varanda do Sesi. Como é especial esse artista e amigo querido”, declara.

Multiartista
Alexandre Leão é um artista com múltiplos formatos de apresentação e isso não afasta, em momento algum, a qualidade dos shows. Ele faz show em teatro, em palco nas praças públicas, em bar fechado, em evento particular, no carnaval – nos circuitos Dodô, Osmar e Batatinha – e a plateia sempre se diverte bastante e sente um show bem completo.

Quando questionado sobre esse multiartista, diz: “já comecei fazendo músicas diferentes. Eu e Belô cantávamos MPB, voz, violão e percussão. Tínhamos uma banda de carnaval – eu e os vizinhos do Tororó. No começo, a gente era muito fã de Luiz Caldas, Sarajane, Ademar, Banda Reflexus. Fui a São Paulo e lá toquei, durante o período em que morei lá, com Rosa Passos. Quando voltei a Salvador, gravei o CD Axé Babá e vendi mais de 10 mil discos em shows, sem botar o disco em loja. Aí comecei me aproximar de músicas dançantes, mas sem perder a minha essência. É muito bom testar novos formatos”.

Alexandre Leão tem duas filhas e dois filhos. Sempre faz da relação com eles uma grande amizade, mas sem deixar de ser de pai pra filhos. “Sempre deixei bem livres meus filhos. As meninas que moram aqui no Brasil. Uma seguiu a faculdade de Gastronomia e a outra de Arquitetura. Não sou aquele pai que quer mandar na carreira profissional dos filho, quero que se sintam bem e estejam felizes”, ressalta.

Petit, filha mais velha de Alexandre Leão, formada em Gastronomia, conta que a relação do dois sempre foi muito divertida e musical. Ela já dividiu o palco com o pai algumas vezes. “Meu pai sempre que precisava de vozes de criança para os jingles lá na produtora, chamava a gente. Ele ensaiava bastante até encontrar a afinação ideal. Assim ele já treinava a gente. Foi como começamos, eu e minha irmã. Ele sempre ensinou bastante e é um excelente professor”, destaca.

“Fazíamos backing vocal pra ele aos 16/17anos de idade. Lembro da gravação de uma das edições do programa Roda Baiana no Botequim São Jorge. Fui fazer o backing de meu pai, tinham outros cantores. Foi a primeira vez que eu cantei com outros cantores”, lembra Petit. “Não tenho uma carreira musical, os fãs começaram a pedir a ele que eu estivesse nos shows. Isso é bem marcante. Em 2018, GFM contratou um show meu com meu pai. Para mim, isso é bom significativo”, completa.

“Meu pai se diverte fazendo o show e isso deixa a apresentação mais leve. Ele é muito inteligente, estuda muito. Sabe todos os momentos e roteiro do show. Tudo tem que estar bem feito. Virginiano, né?!. Ele é um grande exemplo para mim”, conclui Petit.

Durante o período de quarentena, Alexandre Leão passou a fazer lives acompanhado da sua filha mais nova, onde ele interagia diretamente com os telespectadores, respondendo perguntas, cantando músicas escolhidas pelos internautas e contando histórias de sua carreira. Agora, esse encontro com os fãs voltou a ser presencial, com todas as medidas de segurança necessárias. Passe na Varanda do Sesi e faça parte desse projeto musical forte, que comemora 16 anos de idade.