Revista Sobrado

Roberto Aguiar:

Bom dia, Verônica!
Uma série brasileira, produzida pela Netflix, disponível para 190 países, adaptada do livro escrito por Raphael Montes e Ilana Casoy. Sem dúvida, uma das melhores produções da Netflix. O suspense policial tem um ritmo rápido, de impacto. Precisa ter “estômago pra assistir”. Tem acompanhado os capítulos (8 no total), em doses, porque é uma série muito forte, mas que tem a maestria de falar de um tema delicado e presente em nossa sociedade – a violência machista – sem clichê e banalização.

The Morning Show
Uma série lançada pela Apple TV+ no final do ano passado, que passa nos bastidores da produção de um tradicional programa matutino jornalístico de uma TV aberta norte-americana. Apesar de ter o telejornal como título e centro da produção, a série não se aprofunda em questões relativas ao jornalismo, mas ao que acontece nos bastidores, por trás das câmeras: o assédio sexual, o machismo e uma disputa de poder entre os dirigentes da emissora de TV. A série é leve e envolvente, sua condução tem até sintonia com as nossas novelas brasileiras.

Tarsila Carvalho:

Borat Subsequent Movie
Dentre os filmes que vi neste ano, indico Borat Subsequent Movie, mockumentário do ator Sacha Baron Cohen e continuação do filme Borat (2007), para todos que quiserem rir das aventuras satíricas de seu personagem-título. O gênero utiliza a estrutura do documentário para narrar eventos ficcionais, e neste caso, apresenta a saga do jornalista Borat Sagdiyev recém saído da prisão com uma missão: voltar aos Estados Unidos para conquistar a afeição do presidente Donald Trump e do vice Mike Pence em nome do chefe de Estado do seu país, o Cazaquistão. Alvo de diversas polêmicas envolvendo sua produção, o filme é criativo, bem humorado e crítico, com parte do enredo já ambientada durante a pandemia do COVID-19.

I’m Thinking of Ending Things
Para quem deseja o oposto, indico o drama I’m Thinking of Ending Things, do roteirista e diretor Charlie Kaufman. Na linha de outros de seus trabalhos, Kaufman trabalha a complexidade dos desdobramentos dos eventos da vida de uma personagem utilizando uma narrativa não-linear e estética surrealista. A pretensa sinopse é simples: uma mulher viaja junto ao companheiro para conhecer os pais dele. Mas I’m Thinking of Ending Things é uma obra para ser sentida e depois pensada, de ambientações incômodas e situações absurdas. Certamente também muito cativante pela inventividade do roteiro e das atuações em todas as personagens, com destaque para a australiana Toni Collette. Ótimo filme para ver com amigos ou familiares, pois seus símbolos convocam à discussão e à reflexão.

Victória Valentina:

Dickinson
A produção da Apple TV+ é de 2019, mas eu só descobri este ano. A série de comédia e drama é estrelada pela atriz e cantora Hailee Steinfeld, que interpreta a poetisa Emily Dickinson, que faz de tudo para ser reconhecida pela sua escrita em uma época em que mulheres não podiam assinar uma frase sequer em um jornal. A série revisita a história da real Emily, que viveu entre 1830 e 1886, e tem muitas referências atuais, fazendo com que você esqueça facilmente que é um romance de época se não fosse pelos figurinos e locações. O relacionamento sáfico de Emily e Sue, sua melhor amiga por quem é apaixonada, é retratado lindamente através dos pensamentos e poemas que a Dickinson escreve. A segunda temporada, inclusive, será lançada 8 de janeiro na plataforma de streaming da Apple.

Normal People
Confesso que quando comecei a assistir a esta minissérie demorei uns dois dias pra terminar o primeiro episódio. Achei que viveria em slow motion o tempo todo, mas me enganei. A produção é baseada no romance de Sally Rooney, que leva o mesmo nome e apresenta o romance de Marienne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal), dois jovens que moram em uma cidade pequena da Irlanda e enfrentam todas as mazelas da adolescência e vida escolar. Mas o plot é justamente esse: não ser um romance água com açúcar. A sensibilidade e realidade que esse relacionamento é retratado conquistou o público e críticos, chegando  a ser indicada ao Emmy em três categorias. O drama do casal que vive às escondidas por causa de status social na escola se estende para a vida adulta, e é quando a realidade aparece ao falar de encontros e desencontros, saúde mental e crescimento pessoal. Ela está disponível no streaming Hulu e aqui no Brasil é exibida pela Starzplay.

Vinícius Marques:

Pacarrete
Existe muito amor em Pacarrete. Na história, nas personagens, na produção. É a história de uma mulher e de quem vive ao seu redor, mas poderia ser a história de muitos artistas do Brasil. Marcelia Cartaxo atua com uma força única, gigante, e sempre no compasso de seus coadjuvantes. Allan Deberton conduz a obra com muito cuidado e sentimento. É um filme para todos os momentos, mas especialmente um filme para 2020.

Sertânia
Difícil falar sobre Sertânia. Assisti por acaso, sem saber nada sobre a obra. Tentei escrever algumas palavras no momento em que vi, mas não consegui. Ainda não consigo. Um filme múltiplo, cheio de potências, experiências. O diretor baiano Geraldo Sarno, no auge dos seus 81 anos, criou uma jóia do nosso cinema. Para ver com olhos limpos.

Menções honrosas:
Dick Johnsonn Está Morto
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
I May Destroy You
We Are Who We Are

Xande Fateicha:

Alice Júnior
Um filme que chegou na Netflix em outubro desse ano. Que fala de uma garota trans, pernambucana, filha de um francês boticário que é transferido para descobrir uma essência no interior do Paraná e a filha tem que ir junto, por três meses, além de enfrentar muitos preconceitos no novo colégio cristão católico do interior do Paraná, ela estava na véspera de dar o primeiro beijo na boca do crush em Recife e isso foi interrompido. Uma produção leve, que traz assuntos como identidade de gênero, sexualidade, LGBTQIA+fobia de forma consistente, mas sem ser tedioso, ou triste. Ouso achar que esse filme é um marco, por conta da linguagem, para a comunidade Trans dentro do cinema nacional.

AmarElo – É Tudo Pra Ontem
Filme que chegou na Netflix em dezembro de 2020, como um grande presente de fim de ano para a humanidade. Eu jurava que seria um documentário sobre a vida de Emicida e tal, mas é tipo um making of do show AmarElo que aconteceu em 2019 no Theatro Municipal de São Paulo e, intercalando as cenas com falas do próprio Emicida – sobre o processo criativo, sobre racismo, sobra a história da cultura negra no Brasil, sobre referências dele – há cenas do show, com músicas fantásticas. Como geralmente a arte provoca sentimentos inexplicáveis em nós e foi exatamente o que senti ao assistir pela primeira vez AmarElo, eu chorei desde a primeira cena até o fim. É uma certeza que existem pessoas de bom coração no mundo e isso é importante que seja valorizado.